Israel: extrema-direita escolheu um “computador” para a Justiça

Activista da extrema-direita israelita, Ayelet Shaked deu nas vistas pelas polémicas partilhas no Facebook em 2014. Aos 39 anos, chega ao Governo do seu país, por um partido que se opõe à existência de um Estado da Palestina

Gali Tibbon/Pool/Reuters
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Ayelet Shaked Gali Tibbon/Pool/Reuters
“Se cedermos às emoções, elas perturbam o nosso trabalho, acredita Ayelet Shaked DR
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“Se cedermos às emoções, elas perturbam o nosso trabalho, acredita Ayelet Shaked DR

No Verão de 2014, Ayelet Shaked fez um “post” no Facebook que a colocou no centro da discussão sobre o conflito entre o Hamas e Israel, do qual resultaram vários mortos, entre os quais crianças e jovens, raptados e torturados por ambas as partes. Foi acusada de promover o genocídio dos palestinianos e viu-se obrigada a retractar-se. Uma semana antes das eleições legislativas de 17 de Março de 2015, foi eleita a política mais sensual do parlamento israelita. Dois meses depois, a engenheira de computadores de 39 anos tomou posse como ministra da Justiça do novo Governo de Benjamin Netanyahu, mas não sem ser alvo de duras críticas.

Membro do partido ultranacionalista Casa Judaica, Ayelet diz-se secular e com vontade de “fortalecer a identidade judaica”, através de “um Estado judaico democrático e forte”, escreve o “The New York Times” (NYT) num extenso texto sobre o percurso da israelita nascida em Telavive. Coligado com a Casa Judaica e mais três partidos, o Likud de Benjamin Netanyahu conseguiu a maioria necessária (61 dos 120 assentos) para liderar o Knesset, o parlamento israelita. Naftali Bennett, o líder da Casa Judaica, é o novo ministro da Educação.

O percurso político de Ayelet tem início em 2006, ano em que assumiu a função de assistente de Netanyahu. Antes disso, a ministra integrou a Brigada Golani nas Forças de Defesa de Israel e formou-se em engenharia de computadores pela Universidade de Telavive. Trabalhou, durante vários anos, na empresa Texas Instruments — mais conhecida pelas máquinas calculadoras científicas — até se ter decidido pela política. Ao Knesset concorreu pela primeira vez em 2012, pelo Casa Judaica, e juntou-se a várias comissões parlamentares. Não tem, contudo, experiência na área da justiça.

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Ayelet Shaked fotografada na tomada de posse como ministra da Justiça, no Knesset Jim Hollander/Pool/Reuters

Desde o Verão de 2014, muito antes de assumir uma pasta governamental, que Ayelet tem sido notícia. A edição online do “The Times os Israel” recorda que, no dia em que os corpos de três adolescentes israelitas raptados foram encontrados, a antiga escuteira partilhou um artigo de Uri Elitzur no Facebook, no qual apelidava as crianças palestinianas de “pequenas cobras”. Elitzur defendia que o bombardeamento de civis é justificado quando estes “dão abrigo ao ‘mal’” e Ayelet acabou por retirar o “post”, depois de ter sido alvo de muitas críticas.

Mais recentemente — mas ainda antes de tomar posse como ministra da Justiça —, passou a ter direito a protecção policial após uma montagem partilhada no Facebook que a exibia vestida com um uniforme nazi, apelando ao genocídio de palestinianos. O Casa Judaica e os seus membros opõem-se à existência de um Estado da Palestina e defendem, ainda, a expansão dos colonatos judaicos nos territórios ocupados a leste de Jerusalém.

“Não é apenas uma ameaça à paz e segurança, também gera uma cultura de ódio e desobediência”, disse ao “NYT” Hanan Ashrawi, uma líder palestiniana que condena a escolha de Ayelet para o cargo. O “Times of Israel” aponta três medidas que a nova ministra deve vir a tomar: dividir o cargo de procurador-geral em dois ou três; dar mais poder ao Knesset para dominar o Supremo Tribunal de Justiça e reduzir o poder de voto do juízes do Supremo Tribunal na Comissão de Nomeações Judicial.

Mãe de dois filhos e casada com um piloto militar, Ayelet vive no mesmo bairro de Telavive onde nasceu e cresceu, o Bavli, escreve o “The New York Times”. Muito activa nas redes sociais (tem mais de 9.600 seguidores no Twitter e mais de de 120 mil no Facebook), Ayelet partilha fotografias das férias em família e dos compromissos políticos.

No fim de contas, garante ao mesmo jornal norte-americano, o seu aspecto “não tem importância”. Mesmo que um antigo ministro — não identificado pelo “NYT” —, tenha dito que ela era o “mais proeminente político que poderia aparecer em calendários pendurados em oficinas”. O marido descreve-a como “um computador”, por causa da sua “abordagem metódica”, e a melhor amiga chama-a de “robot”. “Se cedermos às emoções, elas perturbam o nosso trabalho. Por vezes”, adverte, “focamo-nos no menos importante e não no principal”.

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