Porque é que não há esperança para Portugal

As pessoas preferem o populismo à verdade, o senhor engravatadinho ao competente, pagar ordenados e pensões chorudas a corruptos a pagar subsídios aos pobres.

Foto
Robério Brasileiro

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança porque, como escreveu José Gil, não existe espaço público, ou este é monopolizado por “tudólogos” — senhores doutores e professores — e quem merecia ser ouvido é ignorado e humilhado publicamente.

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança porque somos um povo tradicionalista para quem a democracia chegou cedo demais, antes da educação cívica e política. Chegou antes da responsabilização do indivíduo para com o coletivo, por meio do voto. Chegou antes da responsabilização coletiva para com o indivíduo. Chegou pelo menos quarenta e um anos antes que o povo aprendesse a utilizar o voto como ferramenta de reivindicação de direitos sociais. Chegou antes que o povo aprendesse a ver a greve como uma ferramenta de reivindicação de dignidade laboral, como ficou bem explícito na recente oposição à greve dos pilotos da TAP.

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança porque, ao contrário do que a senhora Merkel afirma, ainda há uma baixa taxa de portugueses com curso superior. Porque ainda há uma elevada taxa de analfabetismo e iliteracia. E, por isso, as pessoas preferem o populismo à verdade, o senhor engravatadinho ao competente, pagar ordenados e pensões chorudas a corruptos a pagar subsídios aos pobres.

Subservientes e acríticos

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança, porque as pessoas são subservientes e aceitam acriticamente a cartilha neoliberal, encabeçada pelos sucessivos governos, chegando a pretender fazer uma revisão constitucional para “modernizar” a Constituição, para a adequar ao modelo do capitalismo selvagem, para golpear um dos poucos documentos que em Portugal ainda vai mitigando a chacina socioeconómica que se verifica, porque a Constituição é um entrave ao “desenvolvimento”. Porque querem que a mão-de-obra portuguesa seja mais “competitiva”, e as pessoas aceitam. Soa bem.

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança, porque mesmo após evidências do mau funcionamento e gestão do setor privado, cujo móbil exclusivo é o lucro, as pessoas continuam a considerar que a privatização é a solução para os graves problemas económicos e sociais que afligem o quotidiano português.

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança, porque o pouco potencial que existe é completamente sufocado. A maioria emigra.

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança, porque somos um povo guiado por um pensamento mágico. Somos o povinho do sebastianismo. Somos o povo que tem sempre esperança de que alguma coisa mude, contra todas as evidências e não fazendo nada por isso. Somos um povo que fica, tão simplesmente, à espera.

Para Portugal, não há esperança. Não há esperança, porque somos um povo inerte, psicologicamente ascético, politicamente ignorante e niilista passivo. Porque não temos sentido de dignidade social e laboral. Porque não perspetivamos humanisticamente.

Sugerir correcção
Comentar