Bancos centrais em Sintra para discutir combate à estagnação secular

Só irá ficar a faltar Janet Yellen para que durante esta semana passem por Portugal os líderes dos bancos centrais mais poderosos do mundo.

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Encontro acontece numa altura em que os principais bancos centrais mundiais atravessam fases do ciclo diferentes REUTERS/Kai Pfaffenbach

Os responsáveis máximos da política monetária da zona euro, China, Japão e Reino Unido vão estar reunidos a partir de quinta-feira e até sábado na Penha Longa para discutir a actual conjuntura económica mundial e os desafios que enfrentam os bancos centrais. Pela Reserva Federal norte-americana não estará Janet Yellen, mas somente o vice-presidente da instituição, Stanley Ficher. Estes cinco bancos centrais definem a política monetária de mais de metade do PIB do planeta.

Este encontro ao mais alto nível – que acontece na segunda edição do Fórum do Banco Central Europeu (BCE) que se realiza todos os anos, na Penha Longa, em Sintra - ocorre numa altura em que, mais do que tem sido normal nas últimas décadas, os principais bancos centrais mundiais atravessam fases do ciclo diferentes, o que pode tornar mais complexa a interligação e contágio das políticas que cada um decidir aplicar. Por isso, mais do que nunca, se torna importante o diálogo entre os banqueiros centrais.

De um lado, estão a Reserva Federal de Janet Yellen e o Banco de Inglaterra de Mark Carney, que, ao fim de seis anos de compras de activos nos mercados e de taxas de juro a zero, começaram agora a inverter a sua política, apoiados na retoma da economia e na descida da taxa do desemprego. Já deixaram de comprar dívida pública nos mercados e preparam-se agora para começar a subir taxas.

Isto tem conduzido, por exemplo, a uma apreciação significativa do dólar, algo está a ter impacto noutras economias, não só por causa do efeito sobre a inflação que pode ter nos países onde a divisa se desvaloriza, como também pelo facto de os empréstimos assumidos em dólares ficarem agora mais difíceis de pagar.

Noutra fase completamente diferente está o BCE. A instituição liderada por Mario Draghi iniciou em Março o seu programa de compra de dívida pública, a resposta mais agressiva até à data a um cenário de inflação muito baixa a que se assiste na zona euro há já vários meses. Os responsáveis do banco central têm defendido que já se nota na economia os efeitos positivos da acção tomada, mas para já não há ainda sinais de quando é que se planeia começar a retirar as medidas.

Num patamar diferente está ainda o Banco do Japão. Haruhiko Kuroda e os seus pares estão a meio de um dos planos mais agressivos de estímulo à economia em mais uma tentativa – coordenada com o Governo de Shinzo Abe – de eliminar a deflação que tem insistido em reaparecer sucessivamente durante as últimas duas décadas. Um final do programa não é, para já, previsível.

Com taxas de crescimento bastante mais elevadas, mas ainda assim com uma preocupação crescente em oferecer estímulos à economia está o Banco Central da China, liderado por Zhou Xiaochuan. A economia chinesa tem dado sinais de um abrandamento, baixando a barreira dos 7% de crescimento, havendo também preocupações relativamente à possibilidade de o país começar a sofrer pressões deflacionistas, à medida que fenómenos como a bolha especulativa imobiliária se vão extinguindo. O banco central tem por isso vindo a descer taxas de forma agressiva, o que tem travado a apreciação do iuan.

Todo este conjunto de políticas monetárias têm influência umas nas outras, algo que se vai sentindo no mercado cambial internacional, onde a volatilidade registada nas cotações das divisas tem sido significativa.

Para todos estes bancos centrais há, no entanto, uma preocupação comum: a de que a economia mundial possa ter entrado numa fase de “estagnação secular”, em que a dificuldade em regressar às taxas de crescimento anteriores à crise se pode prolongar por muitos anos.

Na Penha Longa, Mario Draghi, Stanley Fisher, Haruhiko Kuroda e Zhou Xiaochuan vão estar juntos num debate que se realiza no próximo sábado à tarde. Antes disso, na sexta-feira de manhã, Mark Carney participa num painel sobre desemprego e inflação, onde estará também Lawrence Summers, o economista norte-americano que mais tem defendido a tese da “estagnação secular”.

Olivier Blanchard, o ainda economista-chefe do FMI (abandona o cargo em Setembro), também será um dos participantes do evento, devendo repetir os apelos para que os governos e os bancos centrais adoptem medidas para tentar evitar o risco de um crescimento lento no globo durante a próxima década.

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