O râguebi como ferramenta de integração

No Bairro da Rosa e do Loreto, em Coimbra, o projecto "Rugby no Bairro" pretende-se incutir a jovens "regras, companheirismo, amizade e lealdade”

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Num campo do Bairro do Loreto, em Coimbra, onde são visíveis algumas marcas do tempo, o râguebi surge como uma resposta à integração e à prevenção de comportamentos de risco em jovens de contextos desfavorecidos. O campo é feito para o futebol, mas cerca de uma dúzia de jovens, dos 12 aos 19 anos, procuravam, na quinta-feira, chegar com uma bola de râguebi às linhas improvisadas e fazer um ensaio.

 

O projecto, intitulado "Rugby no Bairro", começou no dia 21, abrangendo mais de 50 jovens do Bairro da Rosa e do Loreto, e é coordenado pelo Contrato Local de Desenvolvimento Social mais Coimbra (CLDS+). O coordenador do CLDS+, Alcino Silva, explica que o objectivo é levar a prática desportiva a jovens de bairros municipais de Coimbra, considerando que neste desporto, que jogou durante quase 30 anos, se incutem "regras, companheirismo, amizade e lealdade" - "valores muito importantes para estes jovens".

 

"É intervenção social mais proactiva, com estratégias um pouco diferentes do normal", sublinha o vereador da Câmara de Coimbra (uma das entidades parceiras), Jorge Alves, considerando que se poderá alargar a experiência "a outros locais da cidade".

 

Apesar de o treino só ter começado há três semanas, a bola circula por mãos de crianças que já raramente se esquecem de não passar para a frente. "Ao início, era tudo ao molho e fé em Deus, agora já não", frisa Henrique Mendes Santos, presidente da Obra de Promoção Social do Distrito de Coimbra, outra entidade parceira.

 

O presidente do Rugby Agrária de Coimbra, João Alberty, afirma que este desporto "pode despertar nos miúdos aptidões que não sabiam que tinham", recordando que nunca se sabe o dia em que se pode encontrar um grande jogador nestes ambientes, apontando para exemplos como Cristiano Ronaldo ou o francês Franck Ribéry, que cresceram em contextos desfavorecidos. No rugby, as crianças podem encontrar "espírito de equipa e de sacrifício, compromisso de grupo e audácia", salienta, frisando que os jovens que ali praticam já têm algumas dessas características. É apenas "necessário valorizá-las".

 

A treinadora do projecto, Joana Borlido, realça que nesta iniciativa a formação não está centrada em resultados, mas na componente social que o desporto pode ter. "Temos de motivar, minuto a minuto, semana a semana, e continuar a cativá-los para o râguebi", conta, admitindo que pensava que os jovens iam preferir ficar em casa, "mas eles continuam e aparecem mais".

 

Rafaela Henriques, moradora no Bairro da Rosa, que foi dar uma ajuda aos iniciantes, encontrou o râguebi na Agrária, nas últimas férias de verão, e nota mudanças "na pessoa que era" e na que é hoje. "Antes, portava-me mal, hoje, já não me porto", conta a jovem de 14 anos, que sonha um dia chegar à selecção nacional.

 

Rafael, também de 14 anos, neste momento no Centro de Acolhimento do Loreto, integrou o projecto assim que este começou, mostrando-se satisfeito com uma modalidade algo estranha para quem estava habituado a jogar com a bola nos pés, "a avançado". Apesar disso, pretende continuar e, se fosse possível, "até gostava de entrar num clube de râguebi", diz o jovem, ainda ofegante, no final de mais um treino.

  

O "Rugby no Bairro" realiza-se às terças e quintas-feiras, com os treinos abertos a toda a comunidade e acompanhados por uma treinadora e atletas do clube Rugby Agrária de Coimbra.

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