Joana é Hello Kitty em Times Square

Fotogaleria

Foi numa altura de grandes dificuldades económicas que Joana Toro, emigrante colombiana residente em Nova Iorque, resolveu vestir a máscara de Hello Kitty e passar mais de seis horas de pé, todos os dias, em Times Square, tirando fotografias com turistas e recebendo donativos. Joana descreveu a sua experiência ao P3: "A experiência, fisicamente, assemelha-se ao de ter vestido um fato de astronauta num planeta estranho cheio de pessoas; a minha visão era reduzida, via através de um pequeno orifício de onde podia olhar o mundo exterior apenas com um olho. Sentia tonturas com frequência e dor no pescoço devido ao peso da máscara. Os meus sapatos eram volumosos, peças enormes, era difícil caminhar com eles. Era impossível não me sentir embaraçada no início, mas com o tempo fiquei mais 'confortável' com a ideia de estar dentro de 'outro.'" São, na maioria dos casos, emigrantes latino-americanos aqueles que se dedicam a este tipo de trabalho. "Muitos emigrantes executam funções que os cidadãos americanos evitam, submetendo-se a situações precárias ou humilhantes por muito pouco dinheiro. É uma experiência difícil a de estar seis horas ou mais de pé na rua, sem garantias de ser paga ou protegida do tratamento ofensivo de adultos e adolescentes que me empurram ou gritam todo o tipo de insultos raciais. Também a polícia é, geralmente, extremamente rude. Infelizmente, as pessoas são, na sua maioria, grosseiras e tentam bater-te sem motivo. Dentro de uma máscara estás mais vulnerável e tens mais dificuldade em defender-te em caso de agressão. Muitos não nos vêem como seres humanos por usarmos uma máscara, vêem-nos como brinquedos ou como objecto de desprezo." Mas nem tudo são aspectos negativos. "Tirei benefícios intelectuais e espirituais desta experiência. Senti-me feliz por trabalhar também com pessoas gentis, crianças, bebés sorridentes. Um dia, por exemplo, uma menina mordeu-me o dedo com força porque ficou eufórica ao ver-me. Outra menina de cinco anos disse-me "Querida Hello Kitty, dou-te todo o meu dinheiro" e tirou do bolso uma nota de brincar com um mágico numa das faces. Após tirarmos uma fotografia juntas, a sua mãe recusou dar-me um donativo. Às vezes também dava autógrafos (que ironia). Recebia muitos brinquedos das crianças. Conhecia um rapaz autista de 16 anos que todos os dias, durante dois anos, ia a Times Square abraçar as personagens. Só abraçava algumas pessoas, que reconhecia mesmo quando mudavam de máscara. Estas coisas tornavam o trabalho mais doce e tornavam-me mais forte." Joana Toro é fotógrafa autodidacta. Não escolheu este trabalho por ter intenção de fotografá-lo, mas sim por sobrevivência. "Comecei a fotografar esta história quatro meses após o primeiro dia de trabalho. Tive se superar um processo pessoal de vergonha e coragem, de amor e ódio por mim própria até ter orgulho suficiente em fazê-lo." Considera relevante falar dos desafios que enfrentam os emigrantes ilegais nos EUA. "Neste caso, falo do pequeno ecossistema de Times Square, mas pode ser estabelecido um paralelismo com os países industrializados que geralmente utilizam minorias que são 'criminalizadas' pela sua origem ou estado de pobreza. Acredito que não é um crime ter um passado difícil ou ter nascido num país em desenvolvimento." Ana Maia

Começa mais um dia para um grupo de emigrantes latino-americanos.
Auto-retrato da autora.
Visão que Joana tinha de dentro da sua máscara para o exterior.
Polícia exige documentos de identificação a emigrante, em Times Square.
Héctor em sua casa, em Nova Jérsia.
Grupo de artistas de rua chamado
Retrato de Carlos e da sua esposa,