A vida dele dava uma sms

Todos sabemos a definição de “biografia” que o dicionário contempla em primeiro lugar: “História da vida de alguém.” E cada um de nós tem uma história única e irrepetível. Mesmo que se traduza na mais enfadonha das existências.

Divulgá-la ou não já tem que ver com o discernimento que o candidato a biografado tem sobre a sua importância relativa no universo. Se decidir tornar pública a sua vidinha, ficamos perante o segundo sentido registado no dicionário: “Obra que narra a vida de uma pessoa.” Mesmo que o leitor adormeça ao terceiro parágrafo.

Numa pesquisa no Google, escrevemos “biografia” (sem mais) e aparece-nos por esta ordem os seguintes resultados: “Sophia de Mello Breyner”, “Alves Redol”, “Miguel Torga”, “Alice Vieira”. Sabemos que o motor de busca também sabe os nossos interesses, mas logo nos apetece ir inteirar-nos melhor de outras vidas do que aquela que a actualidade impõe: a de Pedro Passos Coelho. É mais um momento em que amaldiçoamos a troca do conhecimento pela informação. Mas trabalhamos num jornal, como conta a nossa triste “autobiografia”…

Nova tentativa no Google, acrescentando “Pedro” à palavra que aqui nos traz. Primeiros resultados: “Pedro Chagas Freitas”, “Pedro Passos Coelho”, “Pedro Abrunhosa”, “Pedro Tochas”.

Somos o Que Escolhemos Ser é o título da biografia do actual primeiro-ministro, da autoria de Sofia Aureliano, assessora do grupo parlamentar social-democrata. Mas também podia corresponder a um romance sobre a vida de António Costa, da autoria de um qualquer assessor do grupo parlamentar socialista. Se o primeiro poderia fazer uma sinopse à volta da sms do seu parceiro Paulo Portas, o segundo poderia assinar a sua própria sentença em linguagem abreviada. Ambos com a salvaguarda de que tudo é “irrevogável”.

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