Algarve: turismo de exclusão

Porque é que ainda tratamos as pessoas com mobilidade reduzida, ou com algum tipo de deficiência, de forma diferente?

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zeevveez

Trabalho em produção e moro no Algarve. Recentemente, tive necessidade de fazer uma marcação num hotel para uma formação musical em que havia um ou dois casos de mobilidade reduzida e foi impressionante verificar que não existia um único hotel com estruturas suficientes para apoiar pessoas com mobilidade reduzida, quer esta seja em cadeira de rodas ou não.

O Algarve é uma das zonas mais turísticas de Portugal e, no raio entre Faro, Quarteira, Loulé, e Olhão não se encontra um hotel que nos possa garantir que os quartos, casas de banho e acessos sejam adaptados a pessoas com problemas de mobilidade. Ora, os elevadores são pequenos ou não existem. Rampas são raras, os quartos não possuem duches adaptados e, caso exista um quarto totalmente adaptado, é o pior do hotel, mais escondido, sem varanda ou o mais pequeno.

Porque é que ainda tratamos as pessoas com mobilidade reduzida, ou com algum tipo de deficiência, de forma diferente? Onde é que está escrito que as pessoas têm de ter menos privilégios ou que tenham de estar num outro quarto?

Todos os quartos, casas de banho e acessos deveriam ser adaptados, uma vez que toda a gente pode usufruir disso mas, o caso contrário, não funciona da mesma forma.

Não temos de discriminar as pessoas só porque não têm a mesma mobilidade que nós. Como diz este texto, publicado há dois anos atrás, estamos a negligenciar um tipo de turismo, apenas porque pensamos que não é rentável (enquanto que, no resto da Europa, é um mercado de 90 mil milhões de euros!)

O que é isto? É preconceito? É desleixo?

Temos os piores quartos (sem vista ou varanda) para os deficientes, temos poucos ou nenhuns acessos e, quando os há, são os mínimos exigidos por lei. E nem falo só na hotelaria: temos exemplos como os supermercados, serviços públicos, cinemas, teatro... Já tive de ir com uma colega minha, em cadeira de rodas, ao cinema e não ter forma de a transportar, ninguém que carregasse a cadeira (a não ser a ajuda dos nossos amigos)...

É triste saber que, no nosso país, as pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida não podem sair de casa sem obstáculos em todo o lado aonde vão; que não podem passar férias sem ter problemas com o hotel que escolhem, os restaurantes onde vão, etc. 

Vamos continuar a excluir as pessoas, a impedi-las de ter qualidade de vida?

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