O Libé é que sabe

A liberdade de expressão é boa, mas pode-se abusar dela: é uma ideia que existe desde o princípio dos tempos.

Esta terça-feira o jornal Charlie Hebdo recebeu um prémio da PEN. Pelo menos 145 escritores, incluindo um bom (Michael Ondaatje) e três que, sendo chatos, não são maus de todo (Lorrie Moore, Teju Cole e Peter Carey), protestaram. Fizeram bem.

A liberdade de expressão é boa, mas pode-se abusar dela: é uma ideia que existe desde o princípio dos tempos. É o princípio contra a blasfémia que todas as religiões, grandes ou pequenas, têm.

Na segunda-feira o Libération publicou cinco páginas de uma polémica em carne viva, em forma de dupla entrevista mediada por Grégoire Biseau e Cécile Daumas, entre duas pessoas inteligentíssimas e bem-humoradas: Laurent Joffrin, chefe de redacção do Libé, e Emannuel Todd, um historiador armado em cientista social.

O Libération é um irresistível e delicioso jornal diário. Leio-o todos os dias. Não passo sem ele. É verdade que está do lado do Charlie Hebdo (partilhou, desde a primeira hora depois do massacre, o edifício da redacção com os sobreviventes), mas tem publicado também todas as reacções que, sendo obviamente contra os assassinatos, não se identificam com o ateísmo anticlerical e blasfemo do Charlie Hebdo.

O melhor do encontro de Joffrin e Todd é a sinceridade. Desprezam-se. Odeiam-se. Mas falam um com o outro. Joffrin e os entrevistadores do Libé respeitam tanto o chefe como o adversário. É uma força francesa. É uma lição republicana. É um trabalho tão democrático como interessante.

É uma raridade.

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