Netanyahu faz acordo com ultranacionalistas para formar novo Governo

O primeiro-ministro israelita conseguiu a margem mínima para uma maioria no Parlamento e viu-se obrigado a dar mais poderes ao Casa Judaica, que quer a expansão dos colonatos.

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Netanyahu quer encontrar soluções para a frágil maioria que conseguiu no Knesset Gali Tibbon/AFP

Benjamin Netanyahu cedeu às exigências do líder do partido ultranacionalista Casa Judaica e anunciou nesta quarta-feira um acordo para a formação do próximo Governo de Israel. Netanyahu fechou as negociações a apenas duas horas do final do prazo, que terminaria à meia-noite desta quarta (o anúncio foi feito às 22h da em Israel, menos duas em Portugal continental).

No final das negociações, e como avança o diário israelita Ha'aretz, o Casa Judaica de Naftali Bennett conseguiu o Ministério da Justiça e outros órgãos de decisões jurídicas no interior do Governo.

Bennett e o seu partido não só são fervorosos opositores à existência de um Estado da Palestina como defendem ainda uma expansão dos colonatos judaicos nos territórios ocupados a leste de Jerusalém. Caso se confirme esta posição de poder do Casa Judaica, o novo Governo israelita pode vir a afastar-se ainda mais das posturas assumidas pela União Europeia e Estados Unidos, que condenam os colonatos israelitas e defendem a criação de um Estado palestiniano.  

Mas a maior preocupação de Netanyahu recai agora sobre a frágil maioria no Parlamento.

Tal como está agora a coligação de cinco partidos, o primeiro-ministro israelita tem apenas 61 dos 120 assentos no Knesset (Parlamento israelita). Com estes números, o futuro Governo de Israel pode facilmente ficar refém de um dos partidos da coligação, ou até de apenas um dos deputados.

Netanyahu só anunciará os detalhes do novo Governo para a semana. Nesta quarta-feira, contudo, o primeiro-ministro israelita deixou no ar a possibilidade de se juntarem mais partidos à coligação e assim aumentar a maioria frágil no Knesset. “Sessenta e um é um bom número, mais de 61 é ainda melhor”, disse Netanyahu, citado pela Reuters.  

No entanto, o primeiro-ministro não apontou nenhum parceiro e as suas opções parecem limitadas. O partido Yisrael Beitenu abandonou as negociações no início desta semana e deixou o Likud de Netanyahu sem parceiros naturais no espectro da direita israelita. Por outro lado, a campanha eleitoral levada a cabo por Netanyahu queimou muitas pontes no centro e centro-esquerda, o que deixa o Likud ainda mais isolado. 

Inesperadamente difícil
Quando Netanyahu assinou um acordo de coligação com o partido do ex-Likud Moshe Kahlon (Kulanu), a expectativa era de que o actual primeiro-ministro israelita teria um caminho fácil para formar um Governo de direita. Afinal de contas, Netanyahu contava com os dois partidos ultra-ortodoxos, e os ultranacionalistas Casa Judaica e Yisrael Beitenu, partido do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman.

As negociações, contudo, foram-se prolongando para além do prazo estabelecido e o Presidente de Israel, Reuven Rivlin, acabou por concender a Netanyahu uma extensão de 14 dias. Caso não houvesse acordo até ao final desta quarta-feira, caberia ao Presidente escolher um novo deputado para formar Governo.

E, a apenas dois dias do limite, a tarefa de Netanyahu ficou inesperadamente mais complicada. Na segunda-feira, o ultranacionalista Avigdor Lieberman abandonou as negociações e atingiu com severidade a imagem de um novo Governo de Netanyahu. Sem o Yisrael Beitenu de Lieberman, o primeiro-ministro ficou apenas com 61 assentos possíveis, a margem mínima e um sinal pouco auspicioso para a estabilidade de um futuro Governo.

Mas a saída de Lieberman causou ainda mais danos do que o de deixar Netanyahu com uma posição frágil no Parlamento. O primeiro-ministro israelita ficou assim dependente do ultranacionalista e polémico Naftali Bennett, o líder do Casa Judaica. 

Bennett aproveitou a sua nova posição de força e exigiu que lhe fosse dada a pasta da Justiça. O braço de ferro durou até ao final da noite desta quarta-feira e acabou com Netanyahu a ceder às exigências de Bennett e a anunciar, na iminência do prazo final, que havia acordo para uma coligação.

Há um consenso de que Netanyahu deitou a perder a vitória nas eleições de Março. “[Netanyahu] teve uma grande vitória e perdeu a capacidade de formar uma coligação estável, e isso é notável”, afirmou ao New York Times Eytan Gilboa, especialista em política e comunicação da universidade israelita Bar-Ilan, em Telavive. 

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