Co-piloto da Germanwings ensaiou queda do avião no voo de ida

Andreas Lubitz activou a configuração mínima de 100 pés [30 metros] várias vezes, na viagem de Düsseldorf para Barcelona.

Foto
Colisão com a montanha provocou a morte de 150 pessoas AFP

O co-piloto do Airbus A320 da companhia aérea Germanwings que se despenhou nos Alpes franceses em Março, provocando a morte de 150 pessoas, ensaiou várias vezes a descida brusca do avião no mesmo dia, no voo de ida entre Düsseldorf e Barcelona – informou o BEA, departamento francês que investiga o caso.

Essas primeiras manobras não tiveram “efeitos sensíveis” no voo, porque ocorreram numa altura em que o aparelho começara já a descer para aterrar e foram prontamente corrigidas. Mas no regresso Andreas Lubitz programou “intencionalmente” o avião para entrar em rota de descida “até à colisão”, indica o relatório preliminar do BEA divulgado nesta quarta-feira.

O relatório confirma o cenário já conhecido: o co-piloto, sozinho no cockpit, ao qual impediu o acesso do piloto, “programou intencionalmente o piloto automático para fazer descer o avião até colidir com o solo”.

O BEA detectou que no voo que antecedeu o acidente, numa altura em que estava sozinho no cockpit, o co-piloto seleccionou várias vezes a altitude de 100 pés [30 metros]. Numa das ocasiões, a primeira, às 7h20m50s, escolheu a opção 100 pés, mudou-a para 49 mil e regressou aos 35 mil recomendados pelo controlo aéreo para aquela fase da viagem.

A opção “100 pés” foi várias vezes escolhida por Lubitz no espaço de três a quatro minutos, mas como foi imediatamente corrigida a rota não sofreu alterações. Se o acidente não tivesse ocorrido, essas anomalias não seriam muito provavelmente detectadas. “Não posso especular sobre o que se passou na sua cabeça; tudo o que posso dizer é que activou o botão para a configuração mínima de 100 pés e que o fez várias vezes”, disse Remi Jouty, director da BEA, citado pela Reuters.

No regresso de Barcelona a Düsseldorf, o co-piloto, 27 anos, já não ensaiou. Lançou o avião contra o solo. O relatório preliminar confirma que nos minutos que antecederam a colisão estava sozinho na cabine e não abriu a porta, apesar de repetidos apelos do piloto e de “pancadas" na porta. Manipulou também várias vezes o piloto automático para aumentar a velocidade do avião e para o fazer “descer mais depressa”, disse Jouty, segundo a AFP.

A informação das caixas negras confirma a intenção voluntária da acção do co-piloto do voo que descolou de Barcelona às 9h00 de 24 de Março. Às 9h30m24s, o piloto deixou o seu posto. Vinte e nove segundos depois, a altitude programada do voo foi alterada de 38 mil pés para 100 pés. Um segundo mais tarde, o piloto automático passa a modo de descida.

Depois de várias tentativas de contacto por parte do controlo aéreo de Marselha, entre as 9h35m32s e as 9h39m02s, são registados por seis vezes ruídos entendidos como sendo o de alguém a bater à porta da cabine de pilotagem. Entre as 9h37h11s e as 9h40m48s ouvem-se, várias vezes, vozes distantes. Às 9h37m13s uma voz pede que a porta seja aberta.

Entre as 9h39m30s e as 9h40m28s são registados por cinco vezes ruídos entendidos como pancadas violentas na porta do cockpit. Pelo meio prosseguem as tentativas de contacto por parte do controlo aéreo. Serão 11 no total. A defesa aérea francesa tenta também, sem êxito, estabelecer por três vezes contacto com o aparelho. A tripulação de um outro aparelho procura igualmente comunicar com o A320.

Às 9h40m41s, o alarme sonoro que alerta para a proximidade do solo dispara: “Terra, terra, subir, subir." Permanecerá ligado até ao embate. Quinze segundos depois, é registado um alarme do tipo “master caution”, seguido, passados mais quatro segundos, de um alarme do tipo “master warning” (alerta principal). Os registos de voz da cabine terminam às 9h41m06, momento da colisão.

No desastre morreram os 144 passageiros e seis tripulantes. O relatório final deverá ficar concluído no prazo de um ano.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários