Portugal não precisa de um Uber

Não me incomoda que a esmagadora maioria dos taxistas me receba dentro do seu carro como se tivesse acabado de sair do dentista depois de uma anestesia

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Estamos bem assim. Estamos bem no nosso cantinho, estamos bem deitados no sofá e não precisamos de ninguém que se venha sentar e obrigar-nos a sentar também. Precisamos de menos Ubers e de menos atrevimentos que ocupem o sofá todo e que até nos obriguem a levantar e avançar para outro sítio fora da nossa zona de conforto.

Não me incomoda que a esmagadora maioria dos taxistas me receba dentro do seu carro como se tivesse acabado de sair do dentista depois de uma anestesia. Gosto da ocasional piada brejeira que me apanha de surpresa e do esporádico insulto, em desabafo, a um qualquer mortal que não sabe conduzir, e valorizo a transgressão das regras de trânsito para fazer-me chegar mais rápido. Mas, entretanto, andei com profissionais com uma profissão ilegal.

A ironia é só parcial. Eu gosto mesmo de quão genuínos são alguns taxistas e não tomo a parte pelo todo. Mas anos de viagens de táxi dizem-me que é grande essa parte e que eu só gosto de vez em quando. Não os culpo porque se acomodaram ao oligopólio dos transportes em ligeiros de passageiros. Não os culpo porque habituaram-se a pensar que a concorrência é o carro de trás na postura. Mas culpo a ANTRAL por ser pequenina e não culpo o tribunal se fez cumprir a lei.

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André Barros é assessor de comunicação e não sabe nem ouviu nada

A lei é para cumprir e a ANTRAL sabe disso porque durante anos foi esmagada por impostos e burocracia, licenças, seguros e impostos. Mas é pequenina porque, confrontada com um concorrente como o Uber, tomou medidas dignas de um português de bigode e defendeu-se atacando. Primeiro com um “eles têm de acabar”, depois com um “se nós pagamos, eles têm de pagar”, porque se há coisa que gostamos é de quando perdemos, perdermos todos juntos. E assim foi. Não valia o esforço de pedir para que lhes retirassem peso e se mantivessem as duas empresas com preços competitivos, provavelmente, ganhando as duas e ganhando o consumidor também.

O tribunal cumpriu a sua parte, se fez cumprir a lei que vigora num país, cujo entendimento de mercado livre e concorrência directa é a ideia de que todos, sujeitos às mesmas regras, cumpram os mesmos preços e dêem ao consumidor a ilusão de escolha. Far-nos-ia confusão ter um pequeno número de empresas a prestar o mesmo serviço sem que estivessem em acordo constante quanto a políticas de preço. Estragaria o panorama do mercado competitivo que há na gasolina, nas telecomunicações e na energia, em que qualquer oferta é alinhada e combinada de antemão.

Somos um país de oligopólios, de legislação forte e de regulação fraca onde se confunde homogeneização com harmonia. Do outro lado, o consumidor confunde passividade com impotência.

A Uber vai lutar até ao fim. O consumidor até nos mecanismos de luta terá apenas a ilusão de escolha.

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