Leilão da colecção de arte da família Espírito Santo rendeu 1,5 milhões de euros

A estrela do leilão foi a rara taça chinesa do século XVIII, do período Qianlong, arrematada por 204,6 mil euros.

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A taça chinesa é do século XVIII, do período Qianlong DR

Foram 149 lotes no total e nem todos foram comprados. A colecção de arte de Ana Maria do Espírito Santo Bustorff Silva (1928-2014) foi leiloada nesta quarta-feira pela Christie’s, em Londres, e rendeu 1,5 milhões de euros. A estrela do leilão foi, como se esperava, a rara taça chinesa do século XVIII, do período Qianlong, decorada a partir de uma pintura de William Hogarth, que acabou arrematada por 120 mil libras (167,7 mil euros), com a comissão da leiloeira o preço da peça fixou-se nas 146,5 mil libras (204,6 mil euros). Surpresa para a pintura a óleo Circle de Jakob Bogdáni que foi à praça por 30 mil libras (cerca de 42 mil euros) e acabou vendida também por 120 mil libras (com a comissão o preço foi o mesmo da taça chinesa).

O leilão começou com alguns lotes a não encontrarem comprador e outros a serem arrematados por valores abaixo das estimativas apontadas pela Christie’s até que ao lote 28 a leiloeira levou à praça a pintura a óleo Circle do húngaro Jakob Bogdáni (1660-1724). As estimativas mais altas da Christie’s apontavam para que a obra fosse arrematada por 50 mil libras (cerca de 70 mil euros) mas esta acabou por ser vendida por mais do dobro do preço. Numa venda muito disputada, a pintura foi arrematada por 120 mil libras (167,7 mil euros). Segundo o leiloeiro responsável pela venda, o quadro terá sido comprado por um licitador online a partir de Itália.

Este foi também o valor da rara taça chinesa do século XVIII e que era anunciada como a estrela deste conjunto que pertencia à neta de José Maria Espírito Santo Silva, o fundador da empresa que deu origem ao Banco Espírito Santo, e filha mais nova de Ricardo do Espírito Santo Silva (1900-1955), que dirigiu o BES nos anos 1930 e foi um importante mecenas e coleccionador de arte. Ana Maria do Espírito Santo Bustorff Silva morreu no ano passado e era a mãe da ex-ministra da Cultura Maria João Bustorff e tia do banqueiro Ricardo Salgado.

A peça chinesa foi à praça por 48 mil libras (67 mil euros). Foi disputada não só por licitadores na sala como ao telefone e na internet. Acabou arrematada por um licitador na sala, cuja identidade não foi revelada.

O antiquário Jorge Welsh, especializado em porcelanas orientais, considera esta taça “uma peça muito rara no mercado internacional”, e pergunta-se mesmo como “terá vindo parar a Portugal” este objecto decorado com armas inglesas. Já as restantes porcelanas da colecção, acrescenta, incluem “algumas peças interessantes”, mas que "vão aparecendo em leilões e não são de grande raridade".

Estas foram as duas peças mais caras de todo o leilão, seguindo-se o par de pastéis de Jean-Baptiste Pillement (1728-1808) vendido por 92,5 mil libras (129 mil euros), acima das esperadas 60 mil libras (83 mil euros).

Uma destas telas é uma vista do Tejo, com pescadores na margem do rio, e a outra mostra uma paisagem ribeirinha escarpada e um rebanho de ovelhas e respectivos pastores. São ambas datadas de 1782, pouco posteriores ao regresso do pintor a Portugal, onde chegou a fundar uma escola. Pillement tinha apenas 17 anos quando chegou pela primeira vez a Lisboa, empregando-se como pintor e decorador. E o seu talento era já então suficientemente reconhecido para que D. José I lhe tenha oferecido o cargo de pintor real, que então recusou para regressar a Londres.

Hoje sobretudo reconhecido pela influência que as gravuras que executava a partir dos seus próprios desenhos vieram a ter na disseminação do estilo rococó na Europa, Pillement foi um importante paisagista, e terá justamente atingido o seu apogeu no período em que realizou o par de telas agora leiloado. A colecção integrava ainda várias outras pinturas e esboços do artista, mas que não alcançaram preços significativos. 

Do total da colecção que era composta por pinturas, desenhos, móveis, porcelanas e pratas de várias épocas e proveniências, 40 lotes não foram vendidos.

Quando em Março, a Christie’s anunciou este leilão referiu-se a este conjunto da família como o “mais consistente núcleo da colecção original de peças francesas, chinesas, italianas e inglesas” que Ricardo do Espírito Santo Silva reuniu. Para a leiloeira, Ricardo do Espírito Santo Silva foi um “verdadeiro conhecedor”, “um dos maiores coleccionadores do seu tempo” e “um dos mais importantes patronos das artes em Portugal". Parte da colecção foi doada ao Estado português em 1953, tendo-se criado a Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS), que se mantém activa até aos dias de hoje. Ao doar a colecção Ricardo do Espírito Santo Silva doou também o Palácio Azurara (nas Portas do Sol), para que ali as obras pudessem ser expostas.

A outra parte da colecção ficou então com a sua filha, Ana Maria do Espírito Santo Bustorff Silva. É essa colecção privada que nesta quarta-feira a Christie’s leiloa. 

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