Coreia do Norte tem mais armas nucleares do que se pensava, avisa Pequim

Especialistas chineses dizem que programa nuclear norte-coreano já poderá ter construído 20 ogivas e calculam que armamento pode duplicar já no próximo ano. EUA apanhados de surpresa.

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Programa nuclear norte-coreano pode estar mais avançado do que se pensava KCNA / AFP

A capacidade nuclear da Coreia do Norte pode estar bem acima daquilo que os Estados Unidos estimavam. Esta é a conclusão de alguns dos principais especialistas chineses, que revela igualmente uma crescente preocupação da parte de Pequim em relação à potencial ameaça representada pelo seu aliado.

A Coreia do Norte pode já ter desenvolvido 20 ogivas nucleares, assim como dispor de capacidade para transformar urânio para fins militares de forma a duplicar o actual arsenal durante o próximo ano, de acordo com o Wall Street Journal, que falou com representantes norte-americanos que se reuniram com especialistas chineses em Fevereiro.

As novas projecções de Pequim contrastam com a desvalorização normalmente dada pelo Pentágono em relação às capacidades nucleares de Pyongyang. Em Outubro, o Exército norte-americano revelou ter conhecimento de que a Coreia do Norte poderia desenvolver um míssil nuclear com um raio de alcance que abrange a costa Oeste dos EUA.

Porém, os responsáveis militares não acreditam que o míssil tenha sido testado e que, portanto, “a probabilidade de ser eficaz é muito baixa”, segundo comandante das forças norte-americanas na Coreia do Sul, o general Curtis Scaparrotti.

Segundo as últimas estimativas dos EUA, a Coreia do Norte teria actualmente entre dez a 16 ogivas nucleares. Tradicionalmente, as projecções chinesas eram mais baixas do que as norte-americanas, mas desde 2010 que têm sido alinhadas e há já dois anos que as ultrapassaram, lembra o WSJ.

A reunião onde os novos cálculos foram revelados teve a presença de técnicos e especialistas chineses e norte-americanos, mas nenhum representante do Governo dos EUA. Siegfried Hecker, um professor da Universidade de Stanford e que foi director do Laboratório de Los Álamos – onde a bomba atómica foi desenvolvida nos anos 1940 – liderou a equipa de especialistas norte-americanos no encontro e disse ter ficado surpreendido com as estimativas chinesas, as mais elevadas de que já teve conhecimento.

"Eles acreditam, tendo em conta o que sabem agora, que os norte-coreanos têm capacidade suficiente de urânio enriquecido para serem capazes de produzir oito ou dez bombas de urânio altamente enriquecido por ano", disse Hecker.

Considerado como um dos principais especialistas norte-americanos sobre o programa nuclear norte-coreano, Hecker acreditava que o regime liderado por Kim Jong-un não tivesse mais do que 12 ogivas actualmente. Fontes próximas do assunto disseram ao WSJ que membros do Governo norte-americano também se surpreenderam com as novas estimativas.

A perspectiva de que a Coreia do Norte tenha um arsenal nuclear superior ao que era antecipado causa receios na região, sobretudo entre a Coreia do Sul e o Japão – alvos constantes de ameaças por Pyongyang. Como signatários de tratados de defesa mútua com os EUA, um ataque a qualquer um destes países obrigaria os Estados Unidos a garantir a sua defesa.

O diálogo diplomático entre Washington e Pyongyang está suspenso desde 2012, altura em que a Coreia do Norte realizou um teste com um míssil de longo alcance. Desde então, a estratégia norte-americana tem sido a de pressionar a China a utilizar os seus canais diplomáticos privilegiados com a Coreia do Norte para dissuadir o regime de desestabilizar a região.

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