Governo acredita no fim do défice agro-alimentar dentro de cinco anos

A CAP festeja o sucesso de um sector que há uma década muitos davam como liquidado.

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Indústria do tomate foi destacada como uma das mais ambiciosas PÚBLICO/Arquivo

Ao contrário do padrão tradicional, o sétimo congresso da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que decorre no Estoril, não se fez com revindicações políticas e ainda menos com o pedido de reforço de apoios ao sector. O tema escolhido para os debates foi a internacionalização e, para celebrar os novos tempos e as novas prioridades da agricultura portuguesa, a ministra Assunção Cristas foi lá anunciar para 2020 o cumprimento de uma velha ambição de Portugal: a conquista do auto-aprovisionamento de bens alimentares.

A ministra da Agricultura deixou claro que, olhando para o desempenho do sector nos últimos anos, o ritmo de investimentos que estão a ser feitos ou os oito mil milhões de euros disponíveis para os próximos cinco anos “o défice agro-alimentar vai acabar até 2020”.

A ambição da ministra, partilhada pela CAP e pelas fileiras mais dinâmicas da agricultura, baseia-se em contas simples. Actualmente, o grau de auto-suficiência alimentar do país aproxima-se dos 80%, depois de nos últimos anos as exportações terem registado fortes crescimentos e as importações ligeiros aumentos ou, em certos anos, algum recuo.

Entre 2005 e 2014, por exemplo, as exportações agro-alimentares cresceram 122%, nas estimativas da CAP. Nos últimos três anos, a diferença no valor entre os bens exportados e os que se importam reduziu-se em 1300 milhões de euros. Só no ano passado esse recuo atingiu os 683 milhões de euros.

Para que haja equilíbrio, há ainda que recuperar um défice de 2600 milhões de euros – o país vende ao exterior 6000 milhões e compra 8600 milhões, nas contas do Governo. Mas a dinâmica esperada nas exportações poderá ser suficiente para o anular nos próximos cinco anos.

“Temos de ter ambição e o sector neste momento é mais ambicioso do que nós”, diz a ministra. Assunção Cristas cita exemplos como o dos produtos frescos (frutas, legumes e flores), sector que no ano passado exportou 1100 milhões de euros e que, a curto prazo, pretende dobrar o valor das suas vendas para o exterior. Ou o da carne suína. Ou o dos vinhos, do tomate e do azeite – áreas nas quais Portugal registou sucessivos aumentos de exportações e deu provas de dispor de uma competitividade de nível internacional.

No congresso, António Franco Jorge, presidente da Associação da Indústria de Tomate, lembrava a propósito que Portugal “tem a segunda maior produtividade do mundo, logo a seguir à da Califórnia”.

O desempenho dos últimos anos mudou a face da CAP e dos agricultores que representa. “Ao contrário do que afirmavam as modas políticas que existiram ao longo de muitos anos, a agricultura resistiu”, disse aos congressistas Pires de Lima, ministro da Economia, e mais do que a sobrevivência, a CAP procurou embrulhar o encontro na modernidade de cenários vistosos onde não faltaram ecrãs gigantes, speakers e toda a parafernália que se pode associar a uma certa ideia de modernidade.

O congresso contou com a presença do primeiro-ministro, do vice-primeiro ministro e dos três ministros do CDS – Assunção Cristas, Pires de Lima e Pedro Mota Soares, ministro da Segurança Social e do Emprego.

Neste cenário festivo no qual a agricultura dá sinais de ter abdicado da imagem de parente pobre da economia para reclamar um desempenho superior ao dos outros sectores, subsistem, no entanto, alguns problemas. Na importante fileira da pasta e do papel, por exemplo, onde a indústria precisa de importar matéria-prima, como notou Diogo da Silveira, presidente da associação do sector, Celpa. Mas nada que impeça este congresso de ser talvez o mais optimista dos 40 anos da CAP.  

 

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