EUA iniciam treinos militares na Ucrânia para combater “agressão estrangeira”

Moscovo condenou a iniciativa conjunta, que diz contribuir para o aprofundar da instabilidade no Leste ucraniano. Observadores internacionais optimistas quanto à implementação total do cessar-fogo.

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Paraquedistas norte-americanos na base militar de Iavoriv, na Ucrânia Genya Savilov / AFP

Um contingente de 300 paraquedistas norte-americanos iniciou nesta segunda-feira um conjunto de treinos conjuntos com tropas ucranianas. A decisão foi fortemente condenada pela Rússia, que considera a presença de forças militares externas na Ucrânia um factor que pode conduzir o Leste do país de novo para a violência.

A cerimónia desta segunda-feira teve sobretudo um carácter simbólico, com a participação do Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, que, em inglês, deu as boas-vindas aos “parceiros e amigos”. As manobras militares destinam-se a fortalecer as capacidades das forças pró-governamentais, num momento em que a Ucrânia enfrenta “uma agressão” operada por “um Estado estrangeiro”, disse Poroshenko.

Kiev acusa a Rússia de promover activamente as milícias rebeldes que combatem as forças governamentais, através do envio de soldados russos, armamento e financiamento. Moscovo nega estas acusações, que são também apoiadas pelos EUA, pela NATO e pela União Europeia.

O envio de militares norte-americanos para a Ucrânia foi criticado pelo Governo russo, que diz contribuir para a desestabilização da situação e que abre caminho para que o conflito que no último ano fez mais de 6100 mortos possa reacender. “A participação de instrutores e especialistas de um terceiro país no território ucraniano, onde um conflito interno continua, onde os problemas em implementar o acordo de Minsk persistem, está longe de ajudar a resolver o conflito”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Os 300 elementos da 173.ª Brigada Aerotransportada do Exército norte-americano vão treinar 900 membros da Guarda Nacional – uma força militarizada criada durante o actual conflito no Leste do país e que é sobretudo composta por voluntários que se destacaram nos protestos pró-europeus na Praça da Independência e que levaram à queda do ex-Presidente, Viktor Ianukovich no âmbito da operação "Guardião Destemido" (Fearless Guardian). Durante os últimos meses, vários batalhões paramilitares, alguns associados a grupos nacionalistas de extrema-direita como o Batalhão de Azov, lutaram ao lado das forças regulares do Exército ucraniano frente às milícias pró-russas.

Esta relação entre o Exército ucraniano e os grupos extremistas tem sido um dos argumentos mais utilizados por Moscovo para justificar a insurreição no Leste – a Rússia apelidou de “golpe militar neonazi” o movimento de contestação que levou à queda de Ianukovich. O porta-voz da embaixada norte-americana, James Hallock, assegurou à Al-Jazira que nenhum membro do Batalhão de Azov irá tomar parte dos treinos e que está previsto um processo de selecção dos participantes incluídos.

A missão norte-americana na base militar de Iavoriv, na região de Lviv, vai durar seis meses e faz parte de um acordo de cooperação mais abrangente, que passa também pelo fornecimento de armas não-letais. Kiev tem feito, porém, uma forte pressão junto de Washington para que o Presidente, Barack Obama, autorize a entrega de armamento letal ao Exército ucraniano, descrito como subfinanciado e ultrapassado. A Casa Branca tem mantido a sua posição de não fornecer armas, privilegiando a pressão diplomática sobre a Rússia – alvo de sanções económicas há cerca de um ano.

Desde a assinatura do segundo acordo de Minsk, em Fevereiro, que a intensidade dos combates no Leste diminuiu de forma acentuada. O foco de violência que mais preocupava desde então situava-se na cidade de Shirokine, a 20 quilómetros de Mariupol, uma cidade portuária no Mar de Azov com grande importância estratégica onde se registavam algumas trocas de tiros.

Porém, mesmo em Shirokine as hostilidades estão a atravessar um momento de desanuviamento. A missão de observadores internacionais da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), encarregada de monitorizar o cumprimento do cessar-fogo, relatou nos últimos dias um período contínuo de 59 horas sem que nenhum dos lados tenha disparado. A pacificação deste local abre “boas hipóteses” para que um cessar-fogo integral possa ser implementado em toda a linha da frente, disse nesta segunda-feira o secretário-geral da OSCE, Lamberto Zannier, durante uma visita a Vilnius, na Lituânia.

Uma posição semelhante foi expressa pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que disse que a situação no terreno “está a acalmar”. “Iremos trabalhar activamente para o fortalecimento desta tendência”, acrescentou. O porta-voz do Exército ucraniano, Andrei Lisenko, informou também que nenhum soldado foi morto nas 24 horas anteriores e disse observar que “o número de violações do cessar-fogo pelo inimigo caiu consideravelmente”.

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