Obrigado, mestres

Tenho a imensa sorte de conhecer, admirar e de ser amigo dos intelectuais comediantes que continuaram e avançaram a revolução.

Quando eu trabalhava com o Herman José, ia ter com ele à casa de Azeitão onde ele cozinhava, fazia-me rir e mostrava-me, sem querer, que não precisava de mim, tal era o génio dele.

O Herman José não está a morrer (nem sequer doente), mas eu lembro-me muito dele.

Um dia ele comprou uma magnífica guilhotina de papel e foi logo mostrá-la. O Herman, tal como eu (modéstia à parte), é um show off beneficiente e generoso. Se eu lhe tivesse pedido a guilhotina, ele, por muito que lhe custasse, não perderia um só segundo a oferecer-ma. Era um mensch.

Por que é que ele comprou uma guilhotina? Pela melhor razão de todas: "Porque sempre quis ter". Dizendo isto enfiou uma resma de papel Conqueror A4 de 120 gramas e cortou-a numa dúzia de blocos de bolso absolutamente luxuosos.

A verdade é que Herman José — esse grande trabalhador que trabalhou tanto; essa grande inteligência capaz de juntá-la ao génio imaginativo que mais ninguém tem ao mesmo tempo foi um grande libertador para os consumidores.

Só esta semana, séculos depois, vou receber a guilhotina que já lhe invejo vai para 50 anos, quando ele me descobriu com 9 anos.

Tenho a imensa sorte de conhecer, admirar e de ser amigo dos intelectuais comediantes que continuaram e avançaram a revolução: Bruno Nogueira e Ricardo Araújo Pereira.

É um milagre estarmos todos ligados, apesar de nunca estarmos uns com os outros. É essa a melhor forma de respeito e de amizade: basta pensarmos uns nos outros.

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