Estado e privados sobrecarregados com dívida até ao final da década

Entre os países analisados pelo FMI, Portugal é o país com um sector privado mais endividado, uma situação que se deverá manter pelo menos até 2020.

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Empresas e famílias portuguesas mantém níveis elevados de endividamento DANIEL ROLAND/afp

Para onde quer que se olhe, seja para o sector público ou para o privado, quando se fala de endividamento Portugal surge inevitavelmente nos primeiros lugares. E a situação não deverá ficar diferente pelo menos até ao final desta década.

Dois relatórios publicados esta quarta-feira pelo Fundo Monetário Internacional – um sobre a estabilidade do sistema financeiro internacional, outro sobre a situação das finanças públicas à escala mundial – colocam Portugal em destaque entre os países com níveis de endividamento mais elevados no Estado, empresas e famílias.

É no sector privado que Portugal apresenta os números mais impressionantes, quando comparados com outros países. O FMI analisou o endividamento das empresas e famílias em onze países (oito da zona euro, Reino Unido, EUA e Japão) e, entre estes, Portugal passou a ser, em 2014, o país com um valor mais elevado, posição que deverá manter em 2020.

No ano passado, de acordo com as contas do Fundo, o endividamento bruto das famílias correspondia a 82,6% do PIB. Este valor é mais baixo do que o registado antes da crise financeira, em 2007 (86,9%), comprovando que os portugueses cortaram fortemente nos novos créditos.

No entanto, devido ao muito baixo crescimento do PIB em termos nominais, Portugal passou, entre os 11 países analisados, a ser o segundo com o valor mais alto (apenas atrás do Reino Unido), quando em 2007 era o terceiro (também atrás dos EUA).

Para 2020, tendo em conta as previsões de evolução da economia do FMI, prevê-se uma redução do nível de endividamento das famílias para 70,4% do PIB. A melhoria, contudo, não impede que Portugal venha a passar no final da década a ser o país com um indicador mais alto, ultrapassando também o Reino Unido.

Nas empresas, o cenário não é melhor. O endividamento passou de 98,2% do PIB em 2007 para 108,5% em 2014, o que fez com que Portugal ultrapassasse a Espanha e o Japão, passando a ser o país analisado com o valor mais alto. Até 2020, espera-se uma redução do endividamento das empresas para 92,5%.

Juntando as famílias e as empresas, o endividamento do sector privado em Portugal apresenta um resultado preocupante, quando comparado com os outros países. Em 2014, atingia os 191,1% do PIB, um valor que fica quase 25 pontos percentuais acima da Espanha, que é o segundo classificado. Para 2020, o FMI prevê uma descida para 162,9%, sem que Portugal se livre do rótulo de mais endividado.

No relatório, o FMI destaca ainda Portugal, quando afirma que dois terços dos 900 mil milhões de euros do crédito mal parado se concentram em apenas seis países: Chipre, Grécia, Irlanda, Itália, Espanha e Portugal. O FMI avisa que o programa de compra de activos do BCE pode ter um impacto mais reduzido nos sistemas bancários que sofram mais com o crédito malparado, como Portugal.

Cortar dívida com o PIB
Quando se olha para o endividamento no sector público, Portugal não é o que apresenta o valor mais alto, mas também não se pode dizer que esteja muito longe. No relatório Fiscal Monitor, com uma dívida pública acima de 130% do PIB em 2014, fica abaixo do Japão, Grécia e Itália entre as economias avançadas.

Esta posição mantém-se nas previsões para 2020, ano para o qual o Fundo prevê que Portugal coloque a dívida pública em 120,9% do PIB.

O relatório do FMI, que é realizado pelo departamento liderado pelo ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar, queria que o ritmo de redução das dívidas públicas, não apenas em Portugal mas na maioria dos países, fosse bastante mais elevado.

O Fundo aconselha os países a estabelecerem regras e políticas orçamentais que tenham como meta garantir a sustentabilidade da dívida e afirmam que esta é a altura de os países aproveitarem a ajuda da economia para melhorarem os seus indicadores das finanças públicas. Isto para poderem depois, quando surgir uma nova crise, usar a margem de manobra conquistada para estabilizar a economia.

O problema, para países como Portugal que registam valores baixos de crescimento nominal e de inflação, é conseguir fazer o rácio de dívida cair com base no aumento da dimensão da economia. O Fundo diz contudo que nem seria preciso muito para que o efeito se fizesse sentir. "Se Áustria, Itália, Japão e Portugal conseguissem atingir um crescimento nominal de 4% em 2017, os seus rácios de dívida poderiam cair até dez pontos percentuais até 2020", afirma o relatório. 

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