Será o ensino de línguas a forma de fazer um sistema educativo melhor?

Especialistas internacionais defendem que aprender idiomas estrangeiros faz dos alunos melhores e pode ser uma ferramenta potenciadora da equidade. Portugal ainda está longe dos lugares cimeiros nos rankings de proficiência linguística.

Foto
Portugal ficou pela primeira vez atrás de Espanha na aprendizagem de Inglês no ranking divulgado no final do ano passado Rui Gaudêncio

“Quem aprende línguas estrangeiras, terá um cérebro preparado para aprender qualquer outra coisa”. A ideia é de Pasi Sahlberg, um dos protagonistas da política educativa que fez das escolas da Finlândia um exemplo internacional, que garante que o relevo dado ao ensino dos idiomas foi um dos motivos do sucesso do país nórdico. Tal como este especialista, outros investigadores internacionais estão a apontar no mesmo sentido: a aposta nas línguas pode fazer melhores alunos e ser uma ferramenta potenciadora da equidade.

Pasi Sahlberg era um dos conselheiros do Ministério da Educação finlandês, nos anos 1990, quando aquele país começou a traçar as reformas que o colocaram nas bocas do mundo. Para isso muito contribuíram os resultados dos primeiros testes do Programme for International Student Assessment (PISA), o mega-estudo sobre literacia dos alunos de 15 anos, feito de três em três anos pela OCDE, que foram divulgados a partir de 2001. A Finlândia era então líder em Matemática e Leitura e aparecia no 2.º lugar em Ciências. Nos anos seguintes, manteve-se nos lugares cimeiros dos rankings internacionais e tornou-se um foco de atenção permanente. “Até 2000, não existíamos”, comenta Sahlberg que, nos últimos anos, tem andado pelo mundo a explicar os motivos deste sucesso. Faz conferências e lançou livros, entre os quais “Finnish Lessons”, que lhe valeu o prémio de Educação Grawemeyer, atribuído pela Universidade de Louisville, dos EUA, em 2013.

“Aprender línguas estrangeiras é definitivamente parte do nosso sucesso”, explicou Sahlberg ao PÚBLICO, à margem do Fórum sobre Inovação em Ensino de Língua, organizado pela empresa de educação Education First, que decorreu em Boston, no mês passado. Para este especialista – que actualmente é professor convidado na Escola de Educação da Universidade de Harvard – há três lições que se podem retirar da experiência finlandesa. A primeira é base de todo o sucesso nórdico: um grande investimento na equidade e na igualdade de acesso; depois, há a valorização das carreiras profissionais dos professores. Por fim, o destaque que é dado ao ensino de línguas estrangeiras.

O sistema de ensino na Finlândia é bilingue – há oferta em finlandês e em sueco –, sendo o segundo idioma doméstico introduzido no sétimo ano. Antes disso, no terceiro ano de escolaridade, começam as aulas do primeiro idioma estrangeiro, sendo que a oferta pública no país tem cinco línguas diferentes (inglês, alemão, francês, russo e espanhol). “Acreditamos que é muito importante para conhecer o mundo e suas diferentes linguagens e culturas desde muito cedo”, justifica Sahlberg, para quem a prioridade na aprendizagem de línguas é também uma forma de desenvolver competências transversais e criar “melhores estudantes”.

Uma ideia semelhante foi também explorada no mesmo Fórum por Paola Ucelli, professora associada em Harvard, que coordena um grupo de investigação em Aprendizagem de Línguas naquela universidade. O seu trabalho mais recente centra-se nas diferenças individuais entre alunos no que diz respeito ao seu desenvolvimento em termos de linguagem escrita e oral e a sua associação à compreensão, comunicação e desempenho escolar. A investigadora concluiu que a “a proficiência linguística é um factor-chave de equidade num sistema educativo”, capaz de reduzir distâncias nos resultados entre alunos de contexto socio-económicos distintos.

Os relatórios internacionais têm recorrentemente chamado a atenção para o fraco desempenho do sistema de ensino português no que toca a esbater as assimetrias sociais. E, quando olhamos para o indicador de proficiência linguística dos estudantes portugueses em inglês – comummente usado como o idioma de referência a nível internacional – os resultados recentes não são os mais animadores. Ao contrário do que acontece com a Língua Materna, a Matemática ou as Ciências, a OCDE não testa e compara os conhecimentos dos estudantes a nível internacional em línguas estrangeiras. Mas há outras ferramentas.

A Education First publica há quatro anos o English Proficiency Index, o maior ranking de proficiência em inglês. Na última lista, divulgada no final do ano passado, Portugal surge na 21.ª posição entre 63 países avaliados – fruto de um total de 750 mil testes aplicados em todo o mundo. O resultado nacional significa uma descida de quatro lugares face ao ano anterior e, pela primeira vez, o desempenho nacional é pior do que o espanhol.

A Education First divide os países em cinco grupos. Portugal aparece colocado em proficiência moderada, o terceiro nível, e é um dos últimos países europeus – Eslováquia, Itália e França têm pior performance –, embora à frente de países como a Índia e Hong Kong, que têm o inglês como língua oficial, ou da Coreia do Sul, que tem um dos melhores sistemas de educação do mundo. Globalmente, o ranking é liderado pela Dinamarca. Os primeiros lugares são dominados pelos países escandinavos (Suécia, Finlândia e Noruega ocupam, respectivamente, o terceiro a quinto lugares). Pelo meio, surge a Holanda.

Em Portugal, o inglês é obrigatório durante cinco anos (do 5.º ao 9.º ano), mas será alargado para o primeiro ciclo (3.º e 4.º anos), a partir do próximo ano lectivo. O Ministério da Educação e Ciência introduziu também os testes da Cambridge English Language Assessment no 9.º ano, o Key for Schools, no ano passado, e o Preliminary English Test, que corresponde a um nível mais elevado, cujas provas orais começam esta segunda-feira.

Sugerir correcção
Ler 12 comentários