FLAD cria fundo de investimento para empresas de base tecnológica

Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento anunciou na ilha do Pico um fundo de investimento que não se destina apenas aos Açores.

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Paulo Pimenta

A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) prepara-se para constituir um fundo de investimento dirigido “às empresas de base tecnológica de países atlânticos”. A medida inscreve-se na nova missão que o presidente da FLAD, Vasco Rato, preconiza para a fundação e foi anunciada no IV Fórum Franklin D. Roosevelt, que terminou nesta sexta-feira na ilha do Pico, nos Açores. Antes debatia-se geoestratégia ou cultura, agora passou a discutir-se economia e empreendedorismo.

Durante dois dias, a FLAD congregou empresários, engenheiros, responsáveis públicos e académicos para descortinar Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para os Açores. A base das Lajes e o impacto económico da redução do efectivo militar americano andou arredado dos painéis de discussão. Mas esse problema económico e social — ainda que os responsáveis não o queiram admitir publicamente — é também uma razão para essa viragem estratégica nos objectivos da fundação criada à sombra do acordo que definiu a utilização da base pelos EUA.

E essa nova abordagem vai reflectir-se nas próximas iniciativas que a FLAD está a preparar. O administrador e membro do conselho executivo Jorge Gabriel confirmou no Pico que a fundação está a ultimar os preparativos para “utilizar parte do seu investimento privado para constituir um fundo de investimento dirigido às empresas de base tecnológica de países atlânticos”.

O prazo definido pela FLAD é que a “ideia de negócio esteja pronto até ao final deste ano”. Juntando a “banca de investimento, investidores privados americanos e investidores institucionais” por forma a ter disponível entre “três a cinco milhões de euros” no arranque da iniciativa.

Os beneficiários do fundo serão empresas de Portugal, dos EUA, África e América do Sul — por exemplo, “empresas americanas que pretendam instalar-se em Portugal ou empresas portuguesas que queiram apostar ou exportar para os EUA ou África”. No fim, o objectivo é que se verifique o “cruzamento de participações sociais” entre empresas dos países atlânticos, fortalecendo assim os laços comerciais e fazendo crescer a economia dos países em causa. Jorge Gabriel escusou-se a enunciar quais os parceiros com que pretende trabalhar no fundo de investimento, com o argumento de que as negociações estão ainda a decorrer.  

Na mente da administração da FLAD está o objectivo do estímulo à economia e ao empreendedorismo. No fundo, transformar a FLAD numa espécie de mini-AICEP especialmente focada no mercado norte-americano. Os responsáveis da FLAD não gostam da comparação, mas, na prática, é isso que se prepararam para ensaiar. Jorge Gabriel confirmou estar a ser ponderada a ideia de aproveitar a rede de contactos norte-americanos — tanto a nível académico como a nível empresarial — que a FLAD acumulou ao longo dos anos para agilizar a entrada de empresas portuguesas e açorianas em particular no mercado dos EUA.

A FLAD quer criar um programa alargado, por exemplo, de apoio ao empreendedorismo que comece com a identificação de “ideias de negócio e de pessoas com potencial” em Portugal e “ajudá-las” através de “canais de marketing e estudos de mercado”. Gabriel acrescenta ainda a possibilidade de apoio à incubação de empresas, à formação básica de gestão e até de dotar esses projectos de “meios financeiros” que permitam depois a internacionalização nos EUA. E a verdade é que a FLAD tem verbas que podem fazer a diferença para as PME portuguesas. “A FLAD tem um portfólio financeiro de 150 milhões de euros/ano”, contabiliza Jorge Gabriel.

Mas a mais-valia da FLAD não se esgota aí. Pelo que Jorge Gabriel afirma, a rede de contactos da FLAD chega aonde o AICEP não alcança. Desde logo devido à proximidade com os “legisladores americanos”. “Ao longo destes anos, houve muitas oportunidades perdidas” por empresas portuguesas que teriam sido aproveitadas, caso estas tivessem algo mais do que as isenções e incentivos estatais norte-americanos com que os legisladores luso-descendentes estão familiarizados. “Em New Bedford há um projecto já concessionado a grande operadores no sector eólico off-shore. Nós em Portugal temos gente que sabe fazer tudo nessa área”, exemplifica Jorge Gabriel.

No encerramento do IV Fórum Roosevelt, Michael Baum, administrador da FLAD que organizou o evento de dois dias no Pico, assumia a “esperança de que [a iniciativa] seja um primeiro passo” nessa estratégia. “Para não morrer na praia”, o fórum tinha de ter seguimento.

Mas foi precisamente aí que o fórum ficou aquém do que prometia. Somaram-se palestras sobre oportunidades de negócio e de investimento nos mais variados sectores. Nas energias renováveis, por exemplo, William White apresentou o preojecto de eólica off-shore que estava a arrancar ao largo de Massachusetts. Reconheceu até que nas renováveis “os americanos têm muito que aprender com os europeus e até com os portugueses, que estão bem mais à frente nessa inovação”. No entanto, no auditório do Museu dos Baleeiros, não estava presente nenhum responsável da EDP Renováveis ou da EDA (Electricidade dos Açores) para ouvir estas palavras .

Também não estava presente nenhum armador açoriano para ouvir Robert Nagle dizer que “as reduções enormes da apanha em New England são uma oportunidade para os Açores”. Baum tentou remediar a situação na sua intervenção, no final do fórum, quando se virou para Nagle e lhe disse que, se quisesse voltar aos Açores para conhecer a comunidade piscatória local, a FLAD estaria disponível para apoiar. Até mesmo para levar os pescadores açorianos a conhecer os seus potenciais parceiros de negócio nos EUA. “Prefiro que o dinheiro da FLAD vá para isso”, rematou.

Mas a verdade é que o fórum podia ter servido para isso mesmo, se tivesse conseguido juntar os “stakeholders” que interessavam: os armadores, os produtores de queijo e leite açorianos ou mesmo os administradores da SATA àqueles que ali discursavam.

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