Chauvet: a caverna das maravilhas já tem uma réplica

Gruta no Sul de França guarda as mais antigas pinturas rupestres. A original está fechada, mas a réplica que foi agora inaugurada pelo Presidente francês deverá abrir já no dia 25.

Fotogaleria
Pinturas e gravuras da réplica foram executados de acordo com técnicas e materiais já disponíveis na Pré-história JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
Réplica da caverna procura recriar condições de temperatura e humidade da original JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
Jean-Marie Chauvet (esq.), Eliette Brunel (centro), and Christian Hilaire (dta.), os espeleólogos que descobriram a gruta em 1994 Philippe Wojazer/Reuters
Fotogaleria
François Hollande durante a visita de inauguração Philippe Wojazer/Reuters
Fotogaleria
Muitas vezes as pinturas figurativas apresentam-nos animais sobrepostos, dando uma noção de movimento própria dos primórdios do cinema JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
A qualidade das pinturas e gravuras de Chauvet fazem os especialistas falar num elevado grau de sofisticação JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
Caminho de acesso à réplica JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
François Hollande durante a visita de inauguração Philippe Wojazer/Reuters
Fotogaleria
JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
São mais de 1000 as pinturas, e mais de metade são não-figurativas JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
Exterior da réplica JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
JEFF PACHOUD/AFP
Fotogaleria
Robert Pratta/Reuters
Fotogaleria
Robert Pratta/Reuters

A original está guardada e interdita a turistas. Os únicos que a podem visitar são os investigadores autorizados, uma comunidade restrita que tem o privilégio de ficar frente a frente com algumas das mais antigas manifestações artísticas do homem. E, a avaliar pelas reproduções amplamente difundidas, Chauvet não é “apenas” uma gruta no Sul de França repleta de pintura rupestre (só isto já seria extraordinário, é claro), é uma galeria impressionante com mais de 30 mil anos que permaneceu intocada.

Nela é notória a aplicação de várias técnicas de pintura e de gravação que contribuem para a criação de imagens de grande impacto e movimento – sim, é possível pensar nos primórdios do cinema (Werner Herzog fê-lo em 2010 com o documentário A Gruta dos Sonhos Perdidos) quando se olha para as panteras, rinocerontes, ursos, auroques, leões, mamutes e cavalos que os artistas do paleolítico ali deixaram, exibindo um imenso domínio no uso das sombras e dos volumes. Teriam sido feitas só para passar o tempo ou como forma de transmitir conhecimento no domínio da caça, essencial à sobrevivência das comunidades que ali viviam? Estariam ligadas a um ritual? Haveria nelas já uma intenção artística?

Para Jean Clottes, o historiador francês que foi o primeiro especialista em Pré-história a entrar em Chauvet, há 20 anos, a gruta, como todas as cavernas para o homem deste período, está ligada ao universo do simbólico. É também este professor, referência nos estudos da arte rupestre, que diz agora que a réplica, de tão exacta, vai "deslumbrar" os visitantes e "despertar emoções".

Os inventores da pintura

Descoberta por espeleólogos em 1994 - Jean-Marie Chauvet, Christian Hillaire e Eliette Brunel localizaram-na a 18 de Dezembro - e desde Junho de 2014 património mundial, Chauvet foi protegida pela natureza – há 20 mil anos a queda de uma rocha tapou a entrada desta “caverna das maravilhas” – e precisava agora de ser salvaguardada pelo homem. Por isso, as autoridades francesas ordenaram a construção de uma réplica, num projecto ambicioso que levou quatro anos a concluir e que exigiu um investimento de 55 milhões de euros, de acordo com a AFP.

A ideia é mostrar o que a caverna original esconde por trás de uma porta de metal que pesa meia tonelada e que tem um código de acesso que só três pessoas conhecem, escreve a agência de notícias francesa. Se aos turistas fosse permitido entrar, as mais de 1000 pinturas de Chauvet – 425 das quais representando animais – ficariam imediatamente em risco, isto porque o delicado equilíbrio de humidade e temperatura que existe nesta gruta a 25 metros de profundidade, e que tem permitido a conservação desta arte pré-histórica, seria comprometido de imediato.

Todos os dias, os responsáveis por este sítio arqueológico, o mais antigo dos bens registados como património da humanidade pela UNESCO (organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, na sigla em inglês), monitorizam as condições de conservação na gruta, procurando bactérias, algas, cogumelos e outros fungos que possam ameaçar a integridade do conjunto.

Na réplica que o Presidente francês François Hollande inaugurou esta sexta-feira, e que deverá abrir a 25 de Abril, foi recriada a atmosfera da caverna original, embora a luz seja bem diferente. Vista do céu, assemelha-se a uma pata de urso e, por dentro, tal como a descoberta em 1994, é fria e húmida. Diz quem conhece as duas que até o cheiro é igual.

Criada com recurso às mais evoluídas tecnologias 3D, a réplica de 3000 m2 situada na comuna de Vallon-Pont-d’Arc foi construída por engenheiros, escultores, pintores e artistas visuais que reproduziram fielmente, e a carvão, as figuras com 36 mil anos, mais do dobro da idade das representações que se podem encontrar noutra gruta do Sul de França, também famosa pela sua arte rupestre – Lascaux.

François Hollande, que esteve mais de uma hora a passear pela réplica que, espera-se, venha a atrair mais de 350 mil visitantes por ano, não poupou elogios às equipas que ali trabalharam. “Foi aqui que o homem inventou a pintura… Aqui, com uma impressão da mão, inventou o auto-retrato… E quando brincou com a luz e a sombra, inventou o cinema”, disse o Presidente francês. E acrescentou: “Nunca deixarei de dizer aonde quer que vá: ‘Queres saber de onde vens? Vai a uma caverna em Pont-d’Arc e estarás precisamente em casa.”

 

  

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários