Um a um no campeonato das citações presidenciais no Pico

Fórum sobre desenvolvimento açoriano juntou embaixador americano e presidente do Governo regional no Museu dos Baleeiros.

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Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional dos Açores, respondeu a embaixador norte-americano José António Rodrigues

Era suposto que a quarta edição do Fórum Roosevelt que a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento organiza até esta sexta-feira na ilha do Pico, nos Açores, servisse de ponte entre portugueses e norte-americanos para apurar possíveis “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável” para os Açores. E ao longo do primeiro dia de conferências, do conjunto de académicos, empresários e políticos presentes até foram surgindo algumas propostas originais para a região autónoma.

Mas a realidade é que o que ficou a ressoar nos painéis de madeira do auditório do Museu dos Baleeiros foram os recados que confluíram aí vindos de Ponta Delgada e Washington. Por um lado, o embaixador norte-americano reciclou o slogan kenediano para deixar no ar a ideia do “não perguntes o que a América pode fazer por ti, pergunta antes o que podes fazer por ti”. Ao que o presidente do Governo Regional dos Açores respondeu com uma citação de outro presidente norte-americano, Franklin D. Roosevelt.

Robert Sherman não se referiu abertamente à questão da redução do efectivo militar americano na Base das Lajes. Mas o assunto estava subentendido na sua intervenção. Começou por elogiar a opção da FLAD de querer debater a economia e o empreendedorismo para depois avisar que os “governos não criam negócios”, cabendo “às pessoas dos Açores” dar o primeiro passo. “Os investidores investem em pessoas”, disse depois de criticar a “cultura” nefasta do “estigma ligado ao falhanço” que existia em Portugal. Tinham de ser os açorianos a avançar, para que então os EUA pudessem “apoiar o desenvolvimento económico dos Açores”. De certa forma, adaptou o célebre discurso de tomada de posse do presidente John F. Kennedy quando este disse aos americanos que em vez de perguntarem o que o seu país poderia fazer por eles, deviam antes questionar-se sobre o que podiam fazer pelo seu país.

Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional dos Açores, não lhe ficou atrás e respondeu na mesma moeda. Já ia com a resposta preparada de Ponta Delgada e sem receio de assumir que a redução militar teria “impacto na relação” entre os dois países. Citou as Lajes e admitiu o “momento de tensão” que existia. E esticando até ao limite a diplomacia na sua intervenção - como um responsável da FLAD reconheceu horas mais tarde - atreveu-se a esfregar na cara do embaixador Sherman a forma como os EUA deviam gerir a sua relação com Portugal. Precisamente, através de uma citação - em inglês para a mensagem não se perder na tradução - do discurso de tomada de posse de outro presidente dos EUA, o “patrono do Fórum” que decorria: “No campo da política externa, eu dedicaria esta nação à política do bom vizinho. O vizinho que resolutamente se respeita a si próprio e que, por isso, respeita os direitos dos outros. O vizinho que respeita as suas obrigações e a santidade dos seus acordos num e com um mundo de vizinhos.”

Por essa altura, o presidente da FLAD, Vasco Rato, devia estar a agradecer aos céus o facto de ter aberto o Fórum antes deste braço-de-ferro. Não teve de fazer um discurso a colocar água salgada na fervura atlântica que por ali se levantava. Pôde limitar-se a definir o “desenvolvimento dos Açores como um pilar estratégico do Acordo [bilateral entre os dois países]” e a defender a “agenda transatlântica” para os anos que aí vinham.

Essa tarefa ficou nas mãos dos conferencistas que avançaram com as ideias mais díspares para os Açores. Como as propostas do director do MIT Portugal sobre a transformação das ilhas num espaço pioneiro da gestão das energias renováveis. Ou na ideia do arquitecto Jeremy Backlar de aproveitar exploração de um dos recursos naturais subaproveitado  dos Açores, a madeira de criptoméria, para a construção de modular de casas.

Ou a instalação de “conjunto de centros de excelência” na região defendidos pelo presidente da IBM Portugal, António Raposo Lima, dotados “das mais avançadas tecnologias cognitivas”. O que, traduzido, representava aproveitar o supercomputador da IBM que num hospital dos EUA já era capaz de, através de uma “simples recolha de sangue” detectar a probabilidade de uma pessoa vir a sofrer de cancro e propor tratamento preventivos para mitigar ou até mesmo evitar os efeitos da doença.

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