Frances Bean Cobain chora quando ouve Dumb mas os Nirvana dizem-lhe pouco

Em entrevista de capa à Rolling Stone, a filha do vocalista dos Nirvana fala do pai e do novo documentário a ele dedicado de que é produtora executiva, Montage of Heck

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Apesar da guitarra na foto, publicada na sua conta de Instagram, Frances Bean Cobain pretende dedicar-se de futuro à pintura DR

Frances Bean Cobain não é particularmente fã dos Nirvana. O grunge não lhe interessa muito. Está mais virada para os Oasis, Brian Jonestown Massacre e Mercury Rev. A confissão surge num excerto da entrevista de capa que a Rolling Stone dedica à filha de Kurt Cobain na antecâmara do lançamento de Montage of Heck, documentário que se propõe revelar, como nunca antes, o homem por trás do mito. Com estreia marcada para este ano e realizado por Brett Morgen, tem produção executiva de Frances Bean Cobain.

“Não quero a mitologia de Kurt ou o romantismo”, terá sido assim, explica a própria, que Frances Bean explicou o que desejava para o documentário. Na sua perspectiva, Montage Of Heck é o “mais próximo de ter Kurt a contar a sua história nas suas palavras”. É o retrato de "um homem a tentar lidar com ser humano”. A entrevista, naturalmente, concentra-se na forma como Frances Bean Cobain, 22 anos, artista visual que pretende dedicar-se a partir de agora de forma mais consequente à pintura (curiosamente, a primeira expressão artística privilegiada por Kurt Cobain), se relaciona com a memória do pai, desaparecido quanto ela contava apenas um ano e meio.

Recorda com um esgar como, enquanto estagiária na Rolling Stone aos 15 anos, se sentava numa secretária a olhar para o pai o dia todo – em frente à secretária estava pendurado um poster de Cobain. Conta, divertida, o dia em que Chris Novoselic, Dave Grohl e Pat Smear a foram visitar a sua casa e, pelas semelhanças físicas, a encararam como se “fosse um fantasma” do antigo colega de banda. “Estavam a falar entre eles, recontando velhas histórias que já ouvira mil vezes. Estava sentada numa cadeira, a fumar sem parar, a olhar para baixo”, com uma expressão de grande aborrecimento – “Estás a fazer exactamente o que o teu pai faria”, conta terem exclamado os três Nirvana sobreviventes.

Frances Bean Cobain era demasiado nova para recordar. Quando fala do pai, a quem se refere como “Kurt” a maior parte das vezes, fala do mito e, dona de informação privilegiada, tenta ler o tumulto emocional que o atormentava. As conclusões não diferem do tanto que se foi escrevendo sobre o tema ao longo de duas décadas. “O meu pai era extremamente ambicioso. Mas teve demasiado peso atirado sobre ele, e excedia a sua ambição. Ele queria que a sua banda tivesse sucesso. Mas não queria ser a porra da voz de uma geração”. Mais à frente, apontará o óbvio desde que o dito “vive rápido, morre jovem, deixa um cadáver bonito” entrou na cultura popular – “Kurt atingiu um estatuto icónico porque nunca irá envelhecer, será sempre relevante no seu tempo e será sempre bonito”.

E os Nirvana? Ah, os Nirvana. Ela ouve-os a toda a hora, porque a banda de Seattle continua presença assídua no quotidiano, mas a música diz-lhe pouco. Como referimos acima, está mais interessada nos Mercury Rev, Brian Jonestown Massacre ou Oasis. Abre duas excepções. Para Territorial Pissings, de Nevermind (“uma canção do caraças”), e para Dumb, de In Utero. “Choro todas as vezes que a ouço”, diz Frances Bean. “É uma versão despida da percepção que o Kurt tinha de si mesmo – dele drogado e sem drogas, a sentir-se inadequado para ser intitulado a voz de uma geração”.

No excerto da entrevista disponibilizado na versão online da Rolling Stone Frances Bean Cobain afastar-se-á do mito Cobain por um momento. Para dizer outra coisa óbvia, mas escondida perante o brilho da mitificação: “A verdade é que, se ele tivesse vivido, eu teria um pai. E isso teria sido uma experiência incrível”.

 

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