Divisão de Honra e a sua desvalorização

As competições nacionais têm sido menosprezadas, com prejuízo directo para equipas e patrocinadores, que apostaram num desporto que defende a ética e verdade desportiva

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Todos os anos se fala de modelos competitivos e de possíveis alterações ao mesmo, para melhorar a competição interna e fomentar o aumento do número de jogadores, com o natural crescimento do número de atletas para servir as selecções. Constata-se que os modelos são adaptados à competição internacional, promovendo a integração de mais jovens na equipa sénior e criando ainda um sistema de grupo A e B, de acordo com a classificação do ano anterior, que jogam entre si na janela internacional, por forma a proteger-se as equipas com mais atletas envolvidos nos compromissos internacionais que, com a sua “segunda linha”, podem facilmente ganhar esses jogos. Por outro lado, o facto de não jogarem com os habituais titulares, promove o equilíbrio no jogo.

 

Aliado a esta conjuntura, ainda existe o circuito mundial de sevens, fundamental para o râguebi português, em que existe um conjunto de jogadores que praticamente deixaram de ser escolhas para os seus clubes, limitando ainda mais os respectivos plantéis. Por último, a competição praticamente não pára, acabando por ser muito curta, com grande parte dos clubes a ficarem seis meses sem jogar (entre Abril e Outubro).

 

Sendo contra alterações anuais dos modelos competitivos, uma vez que acredito que os resultados só são evidentes ao fim de algum tempo de maturação, sinto que existe desvalorização da competição nacional, com prejuízo directo para determinadas equipas e patrocinadores. Não deveria a principal competição nacional ser justa e equitativa?

 

Numa realidade amadora, temos que fazer os respectivos ajustamentos, mas não me parece fazer sentido os clubes ficarem privados dos seus melhores jogadores durante o campeonato - relembro que estamos a falar de competição amadora e não profissional, com plantéis muito curtos. Só mesmo um ou dois plantéis em Portugal têm capacidade para manter o seu nível sem os seus principais jogadores, tornando a competição com pouco interesse competitivo.

 

Não está em causa um novo modelo de campeonato, mas um reajuste ao mesmo em que simplesmente todos os clubes tenham as mesmas possibilidades de lutar entre si com as suas principais armas. Não defendo a total paragem de competição, mas a criação de soluções para manter os jogadores activos nesses períodos, sem prejuízo directo da competição principal.

 

Por que não a integração dos campeonatos regionais nesse período de jogos internacionais? Por que não uma nova competição com o objectivo de se lançar mais jogadores? Com estas opções, obviamente que a principal competição teria que terminar mais tarde, não ficando determinados clubes sem competir durante tanto tempo.

 

Resumindo, qual o maior problema deste sistema?

1- Distorce a realidade desportiva, com um campeonato à partida adulterado, com o ajustamento dos jogos determinado pelos grupos A e B.

2 - Favorece equipas com menos jogadores nas selecções ou que apostem em jogadores estrangeiros de qualidade.

3 - Não favorece a competição interna, desvirtuando a realidade das equipas.

4 - Prejudica a imagem dos patrocinadores que investem numa competição equitativa.

 

Não acreditando em resultados premeditados, nem modelos adaptados para proteger A, B ou C, destaquei apenas alguns problemas do actual modelo. Como exemplo prático, como pode ser a competição credível quando há acordos exclusivos entre a FPR e clubes, como no caso de Carl Murray, que tem uma cláusula exclusiva para poder jogar na competição nacional uma semana antes dos torneios internacionais, contrariando o princípio da equidade em competição. Será que agora todos os clubes vão fazer acordos específicos?

 

Como podem ainda ser convocados para torneios de sevens jogadores que não estão integrados no projecto olímpico em plena fase decisiva de preparação das equipas, quebrando a regra da chamada de jogadores envolvidos nos XV, como aconteceu no caso de Francisco Sousa?

 

Como pode uma equipa do grupo B, considerada à partida mais fraca e com plantéis nitidamente inferiores em quantidade e qualidade, bater-se com uma equipa do grupo A, quando fica privada de um sem número de jogadores em selecções?

 

Como poderá ainda haver um decisivo CDUP-Belenenses, de acesso ao play-off do título, sem os seus principais jogadores, envolvidos em selecções de XV e sevens?

 

Não estará à partida a competição a ser condicionada?

Não poderão os seus patrocinadores sentirem-se lesados pela aposta num desporto que defende a ética e verdade desportiva, quando os sinais são contraditórios?

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