Djhokhar Tsarnaev: mujahedin ou ingénuo participante no atentado de Boston?

O júri começa a deliberar sobre o julgamento do atentado na maratona de Boston – a dúvida é se o suspeito será condenado à morte ou a prisão perpétua.

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"Estavam a trazer a guerra para Boston", disse procurador do Departamento do Estado norte-americano Jane Flavell Collins/Reuters

A retórica das acusações dos procuradores federais contra Dzhokhar Tsarnaev aumentou de tom nas alegações finais do Departamento de Estado contra o norte-americano de origem tchechena, acusado de ser um dos dois responsáveis pelo atentado à bomba na Maratona de Boston, em 2013, que fez três mortos e feriu 264 pessoas. O júri começa a deliberar nesta terça-feira sobre as 30 acusações que enfrenta Tsarnaev e que o podem condenar à morte.

É certo que o norte-americano, agora com 21 anos, será considerado culpado da maioria das acusações – os seus próprios advogados o dizem. O que está em cima da mesa, na realidade, trata-se da condenação: a prisão perpétua, que pede a defesa, ou a pena de morte, que exige o Estado norte-americano?

Na sala do tribunal federal em Boston, em que parte da audiência era composta por sobreviventes do atentado, o Departamento de Estado norte-americano mostrou um vídeo de 80 minutos com imagens dos momentos que se seguiram às explosões.

O New York Times descreve o ambiente: “A sala de audiências encheu-se com um coro islâmico que se engrossava à medida que os ecrãs de televisão mostravam a carnificina do campo de combate na Boylston Street: com membros decepados, um rapaz de 11 anos com fragmentos de osso de alguém alojados no seu corpo e o vermelho vivo de sangue no pavimento como se este se tratasse de vários baldes de tinta”.

O Departamento de Estado quis passar a imagem de que Tsarnaev – e o seu irmão mais velho, Dzhokhar Tamerlan, morto durante a perseguição policial – agiram como extremistas islâmicos, com o objectivo de se vingarem da morte de muçulmanos pelo exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão. Já a equipa de defesa manteve o mesmo argumento com que iniciou o julgamento: que Tsarnaev, então com 19 anos, estava impressionado com o irmão mais velho, esse sim, o verdadeiro arquitecto do atentado, e que não deve ser considerado um terrorista.

Um argumento atacado pela equipa do Departamento de Estado na segunda-feira: “Naquele dia, eles sentiram-se soldados. Eles eram os mujahedin e estavam a trazer a guerra para Boston”, afirmou o procurador norte-americano Aloke Chakravarty, citado pelo Washington Post.

Um acto, afirmou o representante do Departamento de Estado, que aconteceu por vingança das guerras norte-americanas no Médio Oriente. “Foi para dizer à América que 'Nós não seremos novamente aterrorizados por vocês. Somos nós quem vos irá aterrorizar'”, disse o procurador.

Caso o júri considere que Tsarnaev é culpado de alguma das acusações puníveis com a pena de morte (17 das 30 acusações são-no), iniciar-se-á depois uma segunda fase do processo de deliberação, no qual os jurados devem decidir se a condenação deve ser a pena de morte ou a prisão perpétua.

Durante os seus argumentos finais, a equipa de defesa não afastou o envolvimento de Tsarnaev nas explosões de duas bombas caseiras. “Nós não negamos que Jahar [alcunha dada ao réu] participou por completo no sucedido”, começou por afirmar a advogada de defesa, Judy Clarke. Mas a principal responsabilidade do atentado, assegurou, foi do irmão mais velho. “Se não fosse por Tamerlan, isto não teria acontecido”, disse, citada pelo New York Times.
 

   





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