China

China e a "periferia do buraco negro"

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Shangri-La, na China, é um local imaginário e utópico, rodeado por montanhas: um verdadeiro paraíso na Terra. Foi sem ironia que Alnis Stackle baptizou o projecto, ainda em execução, que acompanha o crescimento rápido e de larga escala dos subúrbios chineses. "Não sinto qualquer constrangimento em admitir que acho a China um lugar exótico e cativante. Ao mesmo tempo, não sou ingénuo e entendo que a fachada extravangante cobre uma série de coisas e ocorrências corriqueiras", confessou o fotógrafo letão ao P3. Diz sentir-se particuarmente atraído pelo que denomina metaforicamente de 'periferia do buraco negro', os locais que se situam num limbo identitário, sem um rumo ou utilidade definidos. "É nestes lotes urbanos que surgem os locais mais improváveis. São transitórios e ilusórios porque a mudança pode surgir de um dia para o outro." O próprio não se considera um fotojornalista e gosta de estar no exterior durante a madrugada. "Considero a experiência rica em adrenalina. Além disso, os locais modificam-se esteticamente durante a noite e adquirem uma aparência performativa. Simbolicamente, as pessoas têm tendência a iluminar coisas que acham importantes com luz artificial. A noite altera-nos também a percepção de arquitectura; metaforicamente falando, as casas abrem-se e revelam-nos os seus secredos — alguém acende uma luz e podemos imediatamente que o local é habitado e, talvez, imaginar as vidas dos seus ocupantes. Acho isso bastante romântico." Do ponto de vista da mensagem social do projecto, Stakle adianta: "Já vivi na URSS e já experimentei pessoalmente o socialismo, as colectivizações e a censura. Também tive oportunidade de experimentar o capitalismo ocidental e a democracia no espaço pós-soviético. Esta dupla experiência deixou-me um travo peculiar durante a minha visita à China. Se por um lado reconheço a atitude condenatória do Oeste no que toca a violação de direitos humanos e poluição ambiental na China, ao mesmo tempo fico positivamente impressionado pela rapidez e escala de crescimento económico da China, assim como pela sua absoluta vividez. Achei esta tendência profundamente contrastante com a realidade de países tão pequenos como a Letónia, que lutam por se manterem em equilíbrio — e que apesar de pertencerem à União Europeia se encontram à mercê das oscilações económicas e geopolíticas dos países vizinhos." O projecto ficará concluído em 2016.