Quinta abandonada de Aveiro transformada em espaço de educação ambiental

Projecto em curso numa área florestal e agrícola com cerca de 17 hectares atrai cada vez mais miúdos e graúdos.

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Adriano Miranda

Numa época tão marcada pela dependência dos jovens da Internet e dos jogos de computador, conseguirão os pais mobilizar os filhos para passarem parte de um fim-de-semana a cultivar produtos agrícolas ou a produzir mel? Numa quinta situada em Oliveirinha, uma das freguesias do município de Aveiro, bem próximo do centro da cidade, a resposta tem sido positiva. “No início, os miúdos não gostam muito da ideia de terem de largar o computador, mas depois já são eles que querem vir tratar das hortas e da mata”, afirma Joaquim Pinto, presidente da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA). A associação é responsável pela Quinta Ecológica da Moita, projecto que aproveitou uma área florestal e agrícola que estava abandonada para criar um espaço de educação ambiental.

A ideia surgiu em Julho de 2013, altura em que foi formalizada uma parceria entre a ASPEA e a Santa Casa Misericórdia de Aveiro. “A Misericórdia tinha todo este espaço natural, mas não tinha como o dinamizar e recuperar. Por outro lado, nós andávamos à procura de um espaço para desenvolver actividades de educação ambiental”, explica o presidente da ASPEA. Rubricado o protocolo de colaboração entre as duas entidades, foi necessário deitar mãos à obra, limpando toda a mata e identificando espécies vegetais. “Havia aqui zonas onde nem se conseguia caminhar”, recorda Joaquim Pinto, a propósito do trabalho que foi preciso realizar na quinta que tem vindo a acolher várias acções de formação, festas temáticas e que é, cada vez mais, um espaço para as famílias.

Nesta fase, as atenções dos responsáveis pela quinta e dos visitantes centram-se na dinamização das hortas familiares e comunitárias, bem como na conclusão do centro de educação ambiental – que funciona numa casa datada de 1827. “Seria uma casa de arrumos ou de caseiros, não sabemos bem, mas estamos a recuperá-la”, diz o presidente da ASPEA, ao mesmo tempo que reconhece que, “devido à falta de financiamento e apoios públicos, tudo está a ser feito apenas com o trabalho dos voluntários”. O único apoio financeiro que a Quinta Ecológica da Moita recebeu até ao momento foi atribuído – imagine-se só – pelo Centro Económico e Cultural de Taiwan e destinou-se a financiar um sistema de rega para a zona das hortas da quinta.

“Temos uma horta pedagógica, que é usada para visitas de estudo e formação, e que permite o acesso a pessoas com mobilidade reduzida. A esta, juntam-se as hortas destinadas às famílias e as hortas comunitárias, nas quais recuperamos aquele espírito dos moinhos e dos sistemas de rega partilhados por uma comunidade”, evidencia Joaquim Pinto, a propósito daquele que é um dos espaços que mais pessoas atrai à quinta.

Outro dos projectos que têm vindo a ser dinamizados nesta quinta reside no apiário pedagógico. Com o apoio de um apicultor profissional e formador, foi criado um espaço para dar a conhecer a forma como as abelhas produzem o mel, sendo dinamizadas, com regularidade, várias acções de formação abertas às famílias e à população em geral. “E para a envolvente do apiário prevemos criar também um Jardim das Abelhas”, revela o responsável máximo pela ASPEA, acrescentando: “Projectos e ideias não nos faltam, temos é de ir avançando devagar, à medida que vamos tendo capacidade”.

Para ultrapassar a impossibilidade financeira de intervir em todo o espaço da quinta de uma vez só, os dirigentes da ASPEA podem vir a abrir as portas a “empreendedores sociais”. “A ideia é que as pessoas possam vir aqui desenvolver os seus projectos, desde que se enquadrem na nossa filosofia”, adianta Joaquim Pinto, exemplificando: “Temos um bambuzal que daria um espaço fantástico para aulas de yoga e tai-chi. A sua dinamização pode vir a ser assegurada, por exemplo, por um monitor de yoga”.

Fauna e flora riquíssimas
Com 17 hectares, a Quinta Ecológica da Moita conta com várias linhas de água e é um habitat privilegiado para um variado número de espécies de flora e fauna com grande interesse ecológico, classificadas como espécies protegidas. Na floresta abundam os carvalhos, sobreiros, choupos, amieiros, eucaliptos, pinheiros e castanheiros. Do ponto de vista da fauna destaca-se a presença de inúmeras espécies de aves: guardas-rios, pica-paus, gaios, melros, águias de asa redonda, milhafres, corujas, pombos torcaz, além de outros passeriformes. Já no que respeita às espécies de répteis e anfíbios, o lagarto de água e a rã de focinho pontiagudo são as “estrelas” da quinta.

Além da componente pedagógica, “esta quinta é um excelente exemplo de uma área florestal inserida em ambiente próximo de uma área urbana, embora na periferia da cidade de Aveiro, desempenhando um importante papel do ponto de vista ecológico”, faz ainda questão de destacar Joaquim Pinto, a propósito da importância deste grande espaço verde.

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