Design: Sérgio Alves vence prémio de tipografia nos EUA

O livro “Cassandra” valeu a Sérgio Alves a distinção, entregue pelo The Type Directors Club. “É esto tipo de coisas que nos faz manter um bocadinho à tona”, diz o jovem designer do Porto, que conta já com dois prémios “Graphis” no currículo

Cartaz para a representação de Rei Lear, integrada no Palcos do Românico DR
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Cartaz para a representação de Rei Lear, integrada no Palcos do Românico DR
Ana Marques Maia
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Ana Marques Maia

A participação de Sérgio Alves na criação do livro “Cassandra” começou com um cartaz que o designer fez quando ainda estava na faculdade, para a associação cultural Mundo Razoável. Nuno M. Cardoso, do Teatro Cão Danado, gostou do trabalho do designer do Porto e convidou-o para produzir o livro, agora premiado pelo The Type Directors Club (TDC), nos Estados Unidos. “Sem querer ser muito presunçoso, tínhamos a consciência de que estávamos a fazer um objecto diferente, muito arriscado e trabalhoso mas com a capacidade de se transcender a si mesmo”, confessa ao P3 em entrevista no ateliê da Baixa.

Sete dramaturgos portugueses responderam ao desafio lançado pelo encenador: “Escrever um pequeno texto, uma peça ou um monólogo sobre Cassandra e o futuro de Portugal”. Cassandra é uma figura da mitologia grega, que tinha o dom da profecia; conseguia prever o futuro, mas ninguém acreditava nela. Ao longo de perto de um ano, Sérgio foi produzindo o livro, acompanhando o processo que se revelou mais do que a paginação de vários textos. “Foi algo muito mais interventivo e foi isso que nos deu muito gozo: ser mais do que um objecto documental.”

Cassandra”, editado pela Húmus, conta com apenas 300 exemplares e resulta do trabalho de Jacinto Lucas Pires, Jorge Palinhos, Jorge Louraço Figueira, Mickael de Oliveira, Cláudia Lucas Chéu, Marta Freitas e Tiago Rodrigues. O desenvolvimento tipográfico de Sérgio, que não quis “apenas passar os textos de um ficheiro Word para o InDesign, alinhando tudo”, valeu-lhe o “Certificado em Excelência Tipográfica” na categoria de design editorial do TDC. Para a entidade norte-americana fundada em 1965, diz, “o único foco de interesse é a tipografia: objectos editoriais, cartazes, logótipos, identidades”.

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O livro Cassandra foi editado pela Húmus e conta com 300 exemplares DR

Tal como na maioria dos prémios de design, explica Sérgio, não existe um valor monetário associado à distinção. Aliás, quem inscreve as peças tem que pagar uma quota de inscrição. “A única benesse é estares no meio dos tubarões do design internacional. Aqui imortalizam designers e objectos de design”, reflecte. O livro português vai agora integrar a publicação do prémio, bem como a exposição itinerante que inaugura em Nova Iorque e passará por outros países: Canadá, China, Japão, Alemanha, França, Rússia ou Espanha.

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Pormenor interior de Cassandra DR

Cartazes são "o prato forte"

“Quanto mais premiado e conhecido fores a nível internacional, mais as pessoas estarão atentas ao teu trabalho. Depois, é muito mais fácil chegares a uma faculdade, a professor universitário ou a um convite para conferências ou exposições”, exemplifica o designer de 25 anos que já ganhou dois prémios “Graphis” com cartazes, em 2012 e 2013. “É este tipo de coisas que nos faz manter um bocadinho à tona."

Pelo Atelier d’Alves — que Sérgio criou e onde vai colaborando com outros designers — passam muitos cartazes, “o prato forte” e que resulta de mais encomendas. Mas identidades, logótipos, sites e rótulos de vinhos também aparecem. No último ano, para o Palcos do Românico, Sérgio e os colegas fizeram mais de 70 cartazes — todos relacionados com cultura, a área na qual vão tendo mais trabalho. Em curso está ainda uma colaboração com o Canal 180 e com o Caminhos do Cinema Português.

O jovem formado pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos gostava de acompanhar uma identidade desde o início. “Ter uma entidade ou uma casa da cidade em que pudéssemos trabalhar a dois ou três anos é algo que me aliciaria”, revela. “Tu queres trabalhar em cultura porque queres fazer parte dos projectos, não queres ser mais um serviço.”

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