Cartas à Directora

A longa noite do esquecimento

Pedro Homem de Melo (1904/1984) está injustamente esquecido. O autor de Os Amigos Infelizes (1952) e A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português foi um entusiástico divulgador do folclore português. Os poemas Povo que Lavas no Rio e Havemos de ir a Viana foram imortalizados pela voz de Amália Rodrigues. Colaborou nas revistas Presença, Altura e no Mundo Literário. O autor de Bodas Vermelhas (1947) formou-se em Direito pela Universidade de Lisboa. O poeta escolheu Afife, em Viana do Castelo para viver os últimos anos de sua vida. O mundo literário português remete para o baú do esquecimento importantes nomes da literatura portuguesa. Enquanto a Fundação Eugénio de Andrade, na cidade do Porto, foi votada ao abandono, a Casa dos Bicos, em Lisboa, que alberga a Fundação José Saramago é apoiada pela câmara alfacinha. Luís Miguel Rocha faleceu aos 39 anos. A edição americana (2009) de O Último Papa (2006) foi top de vendas no jornal New York Times. Nesse livro, Luís Miguel escreveu sobre a misteriosa morte de João Paulo I (Albino Luciani). Espero que o autor de Um País Encantado (2005) não seja evocado como mais um escritor caído na longa noite do esquecimento.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

Ordem e progresso?

Este lema da bandeira Brasileira não tem sido muito respeitada no próprio País. Foi o positivista Augusto Comte que o inspirou no século XIX. Aqui em Portugal, tem havido progresso, admitamos, desde a sociedade fechada que existia no regime anterior. Muito desse progresso teria sido inevitável, mesmo com a ditadura, pois tem origem tecnológica, mas reconheçamos que sobretudo nas regiões do interior do País, as diferenças são assinaláveis e positivas. Já no que se refere à Ordem, na minha opinião tem sido um desastre. As forças civis mais radicais que se apoderaram do movimento do MFA, desde o princípio que contestaram todo e qualquer resquício de autoridade do Estado, afirmando-o sempre como "fascista". E não se pense que essa autoridade contestada era só das forças policiais, conotadas com o regime anterior. Com o tempo vieram a abranger toda a autoridade do Estado democrático, da polícia, dos militares ou dos próprios Tribunais e dos Juízes. Mesmo já com a democracia implantada, o ex-Presidente Soares ficou célebre por, em frente às câmaras de TV do País, ter enxotado com desprezo um capitão da GNR que lhe fazia guarda pessoal. Foi uma grave afronta para os militares e forças paramilitares, ainda hoje muito lembrada. Os professores nas escolas, são outro grave exemplo de ausência de qualquer autoridade sobre os alunos. Estes, um dia no mundo real, nas empresas, na sociedade, serão as principais vítimas desta grave lacuna na sua formação. Com o tempo Portugal pode degenerar numa anarquia. Tudo é contestado, tudo é criticado, desde que se tente decidir algo que confronte algum interesse privado. As decisões dos tribunais não são respeitadas, as polícias têm medo de intervir. Prende-se um ex-PM, e os políticos a ele ligados recusam a autonomia judicial e a separação de poderes afirmando que o processo é "político". Chegará o dia em que perante esta desagregação, os que antes eram contra o regime da ditadura, um dia desiludidos com esta "democracia", venham a dizer, "haja quem mande", e depois, adeus democracia.

Manuel Martins, Alandroal

 

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