2014, o pior ano para os palestinianos desde a guerra dos seis dias

Relatório da ONU argumenta que a ofensiva israelita sobre Gaza e o aumento da violência no território ocupado por Israel provocaram um “ano traumático” para os palestinianos.

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A ofensiva israelita a Gaza começou com bombardeamentos à distância Ashraf Amra/AFP

A guerra na faixa de Gaza entre Julho e Agosto do ano passado levou à morte de 2200 palestinianos, dos quais 1492 civis e 551 crianças, mais do que a soma de todas as vítimas palestinianas em Gaza registadas nos conflitos de 2008 e 2009. De acordo com o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA, na sigla em inglês),2014 foi o pior ano para os civis palestinianos desde a guerra árabe-israelita de 1967. Durante as ofensivas do Verão de 2014, morreram em Gaza 71 israelitas, 66 dos quais soldados.

“[O ano de] 2014 testemunhou o maior número de baixas civis desde 1967”, lê-se no relatório das Nações Unidas. A principal causa deve-se aos conflitos do último Verão na faixa de Gaza, mas as Nações Unidas alertam também para o aumento da violência no resto do território palestiniano.  

A ofensiva israelita sobre Gaza começou no dia 8 de Julho, como resposta ao lançamento de rockets e só terminou no final do mês de Agosto. As operações começaram com ataques e bombardeamentos à distância e evoluíram depois para uma ofensiva terrestre. Estima-se que mais de 11 mil palestinianos tenham ficado feridos, segundo dados do ministério da Saúde palestiniano. O relatório não refere o número de feridos do lado israelita.

Ao cenário do conflito em Gaza, soma-se ainda o aumento dos confrontos violentos em território palestiniano. As Nações Unidas acusam determinantemente a ocupação israelita, que entendem ser a responsável para o aumento da violência.

“Esta crise nasce da ocupação prolongada e das hostilidades recorrentes, a par de um sistema de medidas que subverte a capacidade de os palestinianos viverem vidas normais, sustentáveis, e de satisfazerem todo o espectro dos seus direitos, incluindo o da auto-determinação”, declara  a publicação da ONU.

Os principais confrontos foram alimentados sobretudo por três factores: o conflito ao longo do Verão em Gaza, as respostas à morte de três estudantes israelitas raptados e ainda os confrontos que surgiram face à possível alteração no status-quo da mesquita Al Aqsa. As Nações Unidas apontam para o maior número de feridos na população palestiniana desde 2005, ano em que começou a recolher dados. Tudo somado, contabilizaram-se 6000 feridos e 58 mortos na população palestiniana fora de Gaza. Já na população israelita, contaram-se 16 mortos e 250 feridos.

Houve também mais ataques violentos contra e a partir de colonos israelitas nos arredores de Jerusalém. Continuam a ser os palestinianos quem mais morrem nestes confrontos, mas, em 2014, registou-se um aumento significativo na violência contra israelitas. O relatório publicado na quinta-feira pelo Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU afirma que ao longo de 2014 se contaram 105 confrontos em que a vítimas foram palestinianos e 87 que visavam israelitas (em 2013 registaram-se 92 e 39, respectivamente).

A quantidade de palestinianos deslocados – na apelidada zona C e no Leste de Jerusalém – atingiu um número recorde em 2014. Foram deslocados 1215 palestinianos pela demolição de 601 estruturas residenciais. E Israel já anunciou que vai ampliar a construção de colonatos nestas zonas.

Israel tem continuado com a sua política de ampliação de colonatos apesar dos protestos da comunidade internacional. A ONU repete no relatório divulgado quinta-feira estas acusações: “A actividade colonizadora e de [construção de] de colonatos continuou, contrariando as convenções da lei internacional, e contribuiu para a vunerabilidade humana das comunidades palestinianas afectadas”.

A deslocação de famílias palestinianas tem-se agravado – são 100 mil só na faixa de Gaza. Ao longo do território ocupado por Israel, “a demolição de casas e a falta de permissão israelita para a construção e detenção de propriedade”, assim como o “planeamento [urbano] discriminatório na Área C e Jerusalém Leste”, são os principais factores para essa deslocação.

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