Dezoito espectáculos, nenhum mecenas nos próximos meses do TNSJ

Doses duplas de Ricardo Pais e Olga Roriz abrem um novo ciclo marcado por co-produções e pequenas estreias.

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Barulheira é o regresso de João Sousa Cardoso a Álvaro Lapa, com os seus cúmplices do costume CATARINA OLIVEIRA
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Só Se Eu Quiser, de Pedro Estorninho, mergulha na dor e no luto da doença terminal

Primeiro as boas notícias: o Teatro Nacional São João (TNSJ) entrou em 2015 com nova imagem gráfica (impecáveis, os desdobráveis mensais do Studio Dobra de André Cruz e João Guedes), os horários experimentais (quartas às 19h excepto nas estreias, de quinta a sábado às 21h) têm tido “uma óptima aceitação” (com um “impacto especial nas sessões de quarta-feira junto do público escolar, que têm permitido atingir taxas de ocupação de 80%”), os bares do TNSJ e do Teatro Carlos Alberto (TeCA) geraram “nova dinâmica antes e depois dos espectáculos”, e as visitas guiadas já trouxeram 351 visitantes ao edifício principal, tendo produzido também um efeito de captação de público não-português que já é visível (embora não esteja ainda contabilizado) nas bilheteiras.

Agora as más: tal como nas últimas temporadas, o TNSJ de Nuno Carinhas prepara-se para enfrentar mais quatro meses sem mecenas. “O modelo jurídico da entidade pública empresarial não é muito propício, uma vez que impede os mecenas de interferirem nas actividades das instituições apoiadas, ao contrário do que acontece por exemplo numa fundação”, lamentou a presidente do Conselho de Administração, Francisca Carneiro Fernandes, na conferência de imprensa de quinta-feira, em que o São João lançou mais um trimestre. Na fila da frente, Tiago Guedes, o director artístico do vizinho Teatro Municipal do Porto, concordou quando Francisca Carneiro Fernandes avaliou a entrada em cena do Rivoli, que agora inicia o seu terceiro mês de funcionamento regular, como “concorrência saudável”, com repercussões directas – e positivas – sobre as correntes de público das salas da Batalha, de Carlos Alberto e de São Bento da Vitória.

De resto, e numa sessão que começou por homenagear o poeta Herberto Helder (1930-2015) – Fernando Mora Ramos, o Adversário de O Fim das Possibilidades, um dos três espectáculos com que o TNSJ sexta-feira comemora o Dia Mundial do Teatro, leu o poema O Actor: “O actor acende a boca. Depois os cabelos./ Finge as suas caras nas poças interiores./ O actor põe e tira a cabeça/ de búfalo./ De veado./ De rinoceronte./ Põe flores nos cornos./ Ninguém ama tão desalmadamente/ como o actor” –, folheou-se de uma ponta à outra a agenda dos próximos quatro meses, com destaque para as duas doses duplas da temporada.

A abrir, os programas Ricardo Pais x 2 (Sombras – a nossa tristeza é uma imensa alegria e al mada nada estão de regresso a casa, respectivamente de 3 a 5 e de 11 a 19 de Abril) e Olga Roriz x 2 (a festa do Dia Mundial da Dança far-se-á com A Sagração da Primavera, a 24 e 25 de Abril, e Terra, a 29 e 30). A seguir, uma série de co-produções com escala no Porto: Pântano, a nova criação de Miguel Moreira para a Útero (TeCA, 9 a 11 de Abril) que sexta-feira se estreia na Culturgest; As Três (Velhas) Irmãs – Uma Memória de Tchékhov, de Martim Pedroso (TeCA, 8 a 17 de Maio); Amor e Informação, pelo Teatro Aberto (14 a 24 de Maio); Bilingue, colaboração do São João com o Projeto Nós – Território (Es)Cénico Portugal Galicia (TNSJ, 10 a 14 de Junho), numa parceria de José Maria Vieira Mendes e Pedro Zegre Penim; Heterotopia, que encerra a Trilogia do Lugar de Emanuel de Sousa (TeCa, 26 de Junho a 5 de Julho); Pocilga, incursão de John Romão no continente Pier Paolo Pasolini (TNSJ, 3 a 12 de Julho), bonificada, a 4 de Julho, com uma leitura de poemas seleccionados do intelectual italiano, A Religião do Meu Tempo – Poesia de Pasolini; e Só Se Eu Quiser, abordagem à doença terminal do colectivo TEatro Ensaio, com texto e encenação de Pedro Estorninho (TeCA, 17 a 26 de Julho). O incansável João Sousa Cardoso é outra das paragens obrigatórias da agenda, com um regresso a Álvaro Lapa, Barulheira (Mosteiro de São Bento da Vitória, 24 de Abril a 3 de Maio), abordagem ao texto polifónico do pintor e às figuras da sua mitologia pessoal, e outro a Almada Negreiros, MIMA-FATÁXA (TeCA, 22 a 24 de Maio), incorporando as vozes de Ana Deus, Ricardo Bueno e 25 participantes locais.  

Um documentário meta-teatral – Pára-me de repente o pensamento, mergulho de Jorge Pelicano no quotidiano dos doentes mentais do Centro Hospitalar Conde de Ferreira, acompanhando os trabalhos do actor Miguel Borges com o grupo de teatro terapêutico daquela instituição (TNSJ, 7 de Maio) – e dois festivais cuja programação será “oportunamente anunciada”, o FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (9 a 20 de Junho) e o desNORTE – Mostra de Dança do Porto (Mosteiro de São Bento da Vitória, 30 de Junho a 4 de Julho), completam um trimestre em que o TNSJ ainda faz a festa em Serralves e dá continuidade às suas actividades pedagógicas. Enquanto, claro, procura um mecenas.

 

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