Onze passos para salvar vidas no teclado de um smartphone

Gratuita, a aplicação para smartphone é um guia com 11 passos básicos que ensina a fazer massagem cardíaca e a usar um desfibrilhador. É apadrinhada por Figo, que a lançou, no Porto.

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Luís Figo na apresentação que decorreu nesta quarta-feira no Porto Fernando Veludo/NFactos

Será que, se a aplicação CPR11 estivesse generalizada em Portugal, o atleta que morreu no fim-de-semana na meia maratona de Lisboa teria conseguido sobreviver? A perturbante pergunta é feita pela ex-atleta olímpica Aurora Cunha, depois da apresentação, no Porto, de uma aplicação para smartphones que explica como actuar em casos de paragem cardiorespiratória durante a prática desportiva. O ex-jogador de futebol e candidato a presidente da FIFA Luís Figo e a infanta Elena de Espanha apadrinharam o lançamento da “app”, esta quarta-feira, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Desenvolvida em Portugal e Espanha pela Fundação Mapfre em parceria com a FIFA, a aplicação é o primeiro passo da campanha “Joga Seguro” e pode ajudar a salvar vidas, acreditam os seus promotores. Enfático, Luís Figo defendeu mesmo que “a precaução da morte súbita está agora ao alcance de todos” e o secretário de Estado do Desporto e Juventude, Emídio Guerreiro, fez questão de acentuar que “são 11 passos que ficam à disposição no nosso telemóvel para podermos intervir numa situação de emergência”.

Parece, de facto, simples e o download é gratuito: a CPR11 permite a qualquer pessoa aprender (através de mensagens simples e vídeos curtos e explicativos) o que fazer quando alguém é vítima de paragem cardíaca, desde manobras de reanimação ao uso de um desfibrilhador.  

O objectivo é justamente o de transformar esta “app” numa numa ferramenta de aprendizagem, graças aos vídeos que explicam, por exemplo, como colocar a pessoa em melhor posição (com a boca para cima), como fazer a massagem cardíaca correctamente e como e quando fazer a respiração boca a boca e como usar o desfibrilhador, equipamento que actualmente é obrigatório em todos os estádios e em vários recintos, como os centros comerciais.

“Os primeiros dois a três minutos são fundamentais”, explicou Hélder Pereira, cirurgião ortopédico, que é director de pesquisa clínica num dos dois centros médicos que desenvolveram a aplicação, a Clínica do Dragão (Portugal) e a Ripoll y De Prado (Espanha). "Queremos ensinar a linguagem da medicina de emergência", acrescentou.

Quando a CPR11 foi apresentada em Espanha no final de 2014, o jornal El Pais antecipava que, se hoje todo o mundo do futebol sabe o que é CR7 (uma espécie de marca registada para designar um dos melhores jogadores do mundo, Cristiano Ronaldo), em breve muitos estariam “familiarizados” com este acrónimo muito parecido. Nos primeiros dias em Espanha, a CPR11 (reanimação cardiorespiratória, em inglês) chegou “a 25 milhões de pessoas através das redes sociais”, garantem agora os responsáveis por esta iniciativa.

Acreditando que este é o caminho, sobretudo para chegar aos jovens, que são conquistados basicamente através da tecnologia, os promotores lembraram que casos como o do futebolista húngaro Miklós Fehér (que morreu em pleno jogo em 2004) foram na altura fundamentais para sensibilizar a sociedade para o problema da morte súbita que muitas vezes surge ligada à prática desportiva. O problema é que a maior parte ainda ignora o que fazer, perante uma situação deste tipo.

A ideia, agora, é a de difundir a mensagem entre os mais de 300 milhões de futebolistas federados. Mas não só. Os promotores querem chegar “ao maior número de pessoas possível”. Vale a pena o investimento, acreditam. “Na maioria dos casos de paragem cardíaca súbita, em cerca de 80%, a situação é perfeitamente reversível”, explicou o cardiologista e professor da Faculdade de Medicina Ovídeo Costa, sublinhando que a morte súbita cardíaca é a principal causa médica de morte em atletas. Na última década, de acordo com um levantamento da FIFA, só no mundo do futebol aconteceu praticamente um caso por mês.

 

 


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