Dez minutos até cair sem nenhum alerta

Ninguém sabe explicar por que os pilotos não comunicaram nada de anormal aos controladores quando o avião começou a descer.

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Foram cerca de dez minutos. Dez minutos a descer abruptamente quase dez mil metros de altitude. E, ao que tudo indica, dez minutos sem um único alerta por parte dos pilotos do voo 4U9525 da Germanwings, que se despenhou nos Alpes franceses matando 150 pessoas.

Ainda antes de ser encontrada, à tarde, uma das caixas pretas do Airbus A320-200, um site que rastreia os aviões que estão no ar já tinha dados suficientes para traçar o perfil daquele voo fatal. E o que fica claro é que bastou à aeronave ter chegado à sua altitude de cruzeiro para que algo de errado acontecesse.

O percurso do voo 4U9525 está registado ao minuto no site Flightradar24, que tem uma rede de receptores dos sinais dos aviões espalhada em grande parte do mundo. O aparelho iniciou o procedimento de partida do aeroporto de Barcelona-El Prat às 9h55 locais (8h55 em Portugal continental). Descolou às 10h01, com destino a Düsseldorf, na Alemanha, e efectuou uma subida normal, até atingir, às 10h27, a sua altitude de cruzeiro – 38.000 pés, cerca de 11.600 metros. Nessa altura, viajava a cerca de 840 quilómetros por hora.

Foi aí que algo errado terá acontecido, pois quatro minutos depois, às 10h31, o avião iniciou uma descida acentuada. Em dez minutos, segundo os dados recolhidos pelo Flightradar24, o avião perdeu cerca de 9500 metros de altitude. Nalguns momentos, a velocidade vertical chegou a 1600 metros por minuto – três a quatro vezes o ritmo de uma descida normal.

O último registo no Flightradar24 é das 10h41. Nesse momento, o avião estava a 6800 pés de altitude (cerca de 2100 metros) e a uma velocidade de 700 quilómetros por hora. O facto de não haver mais registos sugere que o transponder – um equipamento que transmite dados essenciais dos aviões, como altitude, velocidade e rumo – terá deixado de emitir sinais.

Até às 19h30 desta terça-feira, havia alguma discrepância sobre os momentos exactos do que aconteceu a seguir. O presidente da Germanwings, Thomas Winkelmann, disse que os controladores aéreos franceses perderam o contacto com o avião às 10h53, quando o aparelho estava a 6000 pés de altitude (1800 metros). “Depois o avião caiu”, afirmou Winklemann, numa conferência de imprensa.

Já um porta-voz da Direcção-Geral de Aviação Civil francesa disse à Reuters que os controladores aéreos accionaram um procedimento de alerta às 10h47, depois de terem perdido contacto com a aeronave e na sequência da sua descida abrupta.

O que ninguém sabe explicar é por que os pilotos não comunicaram nada de anormal aos controladores, quando o avião começou a descer. Uma das hipóteses plausíveis será a de uma despressurização súbita, que terá deixado os pilotos sem controlo da aeronave ou mesmo inconscientes. Outra possibilidade será a de falhas nos instrumentos, confundindo os pilotos.

Os momentos finais do voo mostram que o avião esteve sempre a descer, mas a um ritmo variável. Inicialmente esteve a perder 1200 metros por minuto, depois amenizou a descida para 600 metros por minuto, para logo a seguir agudizá-la ainda mais, para 1600 metros por minuto. Nos minutos finais, a velocidade vertical oscilou entre 600 e 1200 metros por minuto.

O Airbus A320 que caiu tinha 24 anos, tendo servido primeiro na frota da Lufthansa, dona da low cost Germanwings. Segundo Thomas Winkelmann, o avião tinha sido alvo de uma vistoria técnica de rotina no dia anterior ao acidente e de uma inspecção mais sistemática no Verão de 2013. O piloto tinha dez anos de experiência e mais de 6000 horas de voo.

Os aviões da família A320 – que inclui os modelos A318, A319 e A321 – são os mais vendidos no mundo. De finais dos anos 1980 até Fevereiro passado, foram fabricados cerca de 6400 unidades.

Este é o décimo primeiro grande acidente com este modelo da Airbus. Em Dezembro passado, um A320 da Air Asia caiu no mar de Java, deixando 162 mortos.

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