ONU estima para Agosto o fim do surto do vírus do ébola

Ainda sob fogo pela sua intervenção inicial no combate ao vírus, a ONU lança a primeira estimativa para o fim do surto do ébola.

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Um cartaz de alerta público na Serra Leoa, onde se registaram já mais de 3600 mortes Francisco Leong/AFP

Sob duras críticas que a acusam de inacção frente à epidemia do vírus do ébola na África Ocidental, a Organização das Nações Unidas (ONU) avançou pela primeira vez com uma estimativa para o fim da actual epidemia do vírus. O responsável pela equipa da ONU de resposta ao ébola anunciou nesta segunda-feira à BBC que espera que o surto termine até ao final do Verão. De acordo com a BBC, o fim do surto é representado pela meta dos zero casos.

Este Março, conta-se um ano desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente a existência de um surto da febre hemorrágica na África Ocidental – mas apenas em Agosto assumiria a existência uma emergência de saúde pública de âmbito internacional. O primeiro alerta surgiu três meses depois de, em Dezembro de 2013, se terem registado os primeiros casos na Guiné-Conacri. Um relatório divulgado este mês pela OMS estima que o vírus tenha matado mais de 10 mil pessoas, de um total de mais de 24 mil casos de infecções.

A ONU (que tem a OMS sob a sua alçada) tem sido alvo de duras críticas pela sua resposta ao surto do ébola. Críticas que foram renovadas nesta segunda-feira num relatório publicado pela organização dos Médicos Sem Fronteiras (MSF).

O líder da equipa de resposta ao vírus admitiu nesta segunda-feira-feira à BBC que a organização foi arrogante na sua abordagem à epidemia. “Houve provavelmente falta de conhecimento e um certo grau de arrogância”, afirmou Ismail Ould Cheikh Ahmed, dizendo em seguida que espera que o vírus fique sob controlo este Verão: “Temos andado a fugir de apontar uma data específica, mas estou pessoalmente muito certo de que [o surto do vírus do ébola] desapareça ao longo do Verão.”

Não é a primeira vez que a OMS faz um mea culpa acerca da sua resposta ao ébola em África. Em Janeiro,  a directora-geral da organização, Margaret Chan, disse que “o mundo, incluindo a OMS, foi muito lento a ver o que se estava a desenrolar”.

Uma ideia que ecoa no relatório publicado esta segunda-feira pelos Médicos Sem Fronteiras. À medida que, já em Junho, a organização dizia que o surto “estava fora de controlo” e afirmava que não havia recursos suficientes, “as autoridades governamentais e os membros da OMS na Guiné-Conacri e Serra Leoa relativizavam o alastramento da doença, insistindo na ideia de que estava sob controlo e de que os Médicos Sem Fronteiras estavam a causar pânico desnecessário”, lê-se no relatório.

A organização vai mais longe e acusa a OMS de apenas ter declarado o estado de emergência de saúde pública em Agosto pelo facto de terem sido diagnosticados casos fora de África. Em Agosto já tinham morrido 1000 pessoas por causa do ébola.

“Quando o ébola se tornou uma ameaça à segurança, e não apenas uma crise humanitária que afectava um punhado de países pobres na África Ocidental, o mundo começou finalmente a acordar”, escreve no relatório dos Médicos Sem Fronteiras Joanne Liu, a presidente internacional da organização.

Apesar de o número total de casos ter caído significativamente até Janeiro, desde então não se registou nenhuma evolução positiva no controlo do vírus. Na Libéria, o país mais afectado pelo ébola com mais de 4100 mortes, registou-se o primeiro novo caso na passada sexta-feira, depois de duas semanas sem nenhuma nova incidência, diz a BBC. 

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