Isenção jornalística e pressão política

É cada vez mais necessário ter em conta a distinção entre estes dois planos: o plano da informação noticiosa e o plano da opinião.

Indubitavelmente os media não são imunes à pressão política e, em especial, àquela desencadeada por um frenético, mas precocemente antecipado, período de pré-campanha eleitoral. E como tal, não sou eu que vou declarar que o PÚBLICO está blindado contra essa pressão. Mas também não posso anuir, de forma tão linear, como vêm notando vários leitores, que o PÚBLICO está a perder características de isenção e rigor.

Pela razão de ser provedor dos leitores tenho particulares deveres de estar atento a eventuais desvios que lesem uma conduta prevaricadora nas qualidades de isenção e rigor que têm de espelhar a credibilidade que o PÚBLICO quer usufruir junto dos seus leitores. Porém, essa condição avalizadora do exercício deste meu cargo não implica que tenha de estar sempre do lado dos leitores. A posição manifestada por um leitor que reconhece a minha preocupação em defender o jornal e os seus jornalistas é, em si mesma, uma acusação. Fundamentalmente tenho de defender o espaço que este jornal quer ser de livre expressão e de opinião plural em convivência democrática.

Donde, é cada vez mais necessário ter em conta a distinção entre estes dois planos: o plano da informação noticiosa e o plano da opinião. O rigor e isenção no plano da informação noticiosa dos factos, acontecimentos e situações, não podem impedir o plano de opinião. Conforme diz o Livro de Estilo, "a apresentação dos factos, em que se incluem as opiniões de terceiros, é informação, o relacionamento dos factos entre si é interpretação, e o juízo de valor sobre os factos é opinião". Como é reconhecível, o PÚBLICO tem um largo espaço de opinião. Esse espaço não pode estar confinado apenas aos comentadores habituais ou ocasionais. Os jornalistas e o jornal, particularmente no seu espaço de editorial, têm igualmente direito à sua opinião. Reconheço que, por vezes, nem sempre é fácil haver impermeabilidade entre informação e opinião. Mas, na sua análise e crítica, também aos leitores e ao provedor está reservada a condição de rigor e isenção.

Ora, parece-me que este clima de pré-campanha ou de autêntica campanha eleitoral, em que o país tão prematuramente foi mergulhado, vai exigir-nos, a todos, particulares cuidados no exercício de isenção e rigor na análise dos casos e situações que todos os dias estão a deflagrar na opinião pública. Mas sem iludir a veracidade dos factos e a transparente posição de definir de que lado cada um está.

Correio Leitores/Provedor

Sobre rigor e isenção

O leitor Joaquim Moreira volta a escrever-me para manifestar discordância com algumas das opiniões que exprimi na crónica de domingo passado. Perdoe-me o leitor, mas apenas vou referir sumariamente a sua carta. Tem todo o direito em defender outros pontos de vista. Mas não gostaria de reconverter este espaço com os diferendos a propósito das opiniões do provedor.

Depois de contestar alguns dos meus “incompreensíveis” argumentos, o leitor escreve: "Quando se diz que, 'pagar à Segurança Social não é um benefício, é uma obrigação legal', pretendendo-se enfatizar a obrigação legal, não se está a ser rigoroso. Em bom rigor, pagar à Segurança Social é uma obrigação legal, mas também é um benefício. (…) Concordo 'que mesmo estando prescrita é uma obrigação moral e ética'. O que não posso concordar, de forma nenhuma, é que se dê tanta cobertura mediática a estas 'falhas' na sequência do 'caso Tecnoforma', quando vivemos num país com um ex-primeiro ministro preso. (…) Deixe-me ainda que lhe diga que, ao referir que 'a competência comunicacional é uma exigência ao exercício da política. Da parte dos chefes ou das equipas de peritos que os acolitam', me fez recordar o grande 'Especialista' na matéria no Governo anterior, que, talvez por isso, foi e continua a ser muito poupado por este jornal, sobretudo se comparado com o que se passa com o actual. Da minha parte, não me importo que o Governo comunique mal, quero é que não me engane. No que respeita à qualidade da nossa comunicação, gostaria que essa fosse assumida pela Comunicação Social, PÚBLICO incluído, esclarecendo a 'má comunicação' e não agravando-a ainda mais." (…)

"Permita-me ainda comentar o texto com chamada de 1ª página de ontem, Nomeações do Governo deixam de fora candidatos socialistas, depois tratado no Editorial O verniz da Cresap estalou. (Dizer que) “o verniz da Cresap estalou” significa, numa leitura simples, que algo importante afinal tornou-se numa vulgaridade. De facto, este tema é importante, na medida em que, pela primeira vez na nossa democracia, os altos funcionários da administração públicos são escolhidos por mérito e não 'a olho'. Sendo o Primeiro-Ministro um grande defensor do processo, parece-me que ao pretender-se vulgarizar esta sua decisão inovadora e meritória, pretende-se, obviamente atingi-la e atingi-lo." (…) A CReSAP foi criada pelo Governo anterior. Não cumpriu a sua tarefa porque o seu responsável João Bilhim demitiu-se, quando percebeu que o PS o ignorava, continuando a nomear os seus 'boys'. Não me lembro de o PÚBLICO se ter insurgido. Com a este Governo, Pedro Passos Coelho recuperou o conceito, na tentativa de acabar com os 'Jobs for the boys', apesar de alguns dos Ministros continuarem a tentar 'meter dos seus'. (…) Os 'recusados', além de serem o dobro dos que entraram, serão naturalmente do PS já que, como é fácil de ver, já há muitos anos que andavam a fazer curriculum. (…) Já confirmaram as 'filiações partidárias' dos que foram escolhidos? (…) Por isso, sem prejuízo de se saber quem foram os escolhidos – ao que sei já foram escolhidos apoiantes do partido socialista – julgo que o título: Candidatos do PS levam sucessivas recusas nas nomeações do Governo revela uma preocupação, que sendo legítima, me parece um pouco exagerada e reveladora, mais uma vez, de uma posição política que põe em causa o rigor e a isenção, que se exige a este jornal de referência." (…)

Comentário: Tendo questionado a jornalista Raquel Almeida Correia, autora do artigo, a jornalista diz o seguinte: "O texto resultou de um tratamento exaustivo aos 339 concursos realizados pela Cresap (Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública) com o objectivo de perceber se havia candidatos que chegavam repentinamente à 'short list' sem serem nomeados. Facto que acabou por se confirmar, com a característica de muitos desses candidatos terem ligações ao PS. O artigo não pretende avaliar a bondade ou utilidade desta comissão, pelo que não me posso pronunciar sobre os comentários que o leitor tece."

Da minha parte, remeto os leitores para o texto de fundo desta página.

Tunes ou Túnis

O leitor Mário Rodrigues entende que o PÚBLICO utiliza a denominação Tunes quando lhe parece que deve ser Túnis. Consultei o Livro de Estilo do PÚBLICO, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e o Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa dos autores Magnus Bergstrom e Neves Reis (42.ª edição da Editorial Notícias, 2002), e todas estas fontes designam Tunes, como capital da Tunísia. Com efeito, também outros usam a designação Túnis.

Iémen

Quanto a outro pedido de rectificação sobre o texto Combates em Aden agravam situação no Iémen, ( 20.03.15) e cujo título situa o Iémen em África, trata-se, efectivamente, de um lapso, o Iémen situa-se na Ásia, como aliás se percebe no texto.

Outros assuntos

Tenho em agenda outros comentários e queixas que, por falta de espaço, tenho de adiar o seu tratamento.

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