Pássaro no bico

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Chaleira 9093, um ícone da Alessi e também imagem de marca de Michael Graves dr
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Esquisso para a chaleira 9093 dr
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Design de Graves para o serviço de chá e café da Alessi dr
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Michael Graves morreu na quinta-feira 12 de Março, na sua casa em Princeton, com 80 anos

Foi em 1980 que começou a relação profissional entre Michael Graves (MG) e a Alessi, marca italiana que se tornou famosa primeiro por produzir artigos de cozinha e mesa de qualidade a preços relativamente acessíveis, e depois por decididamente apostar na sua constante relação, sempre renovada, com designers e arquitectos. Michael Graves (que morreu aos 80 anos na semana passada) foi um dos primeiros da lista. O projecto de pesquisa “Tea & Coffee Piazza” lançado pela Alessi, em colaboração com o designer e arquiteto Alessandro Mendini, convidava onze arquitetos a desenharem o tradicional serviço (de chá e café) que viria a ser manualmente produzido em prata. O objectivo era introduzir novas linguagens no design de produtos domésticos. Dos onze, evidenciaram-se dois novos talentos que viriam a continuar esta parceria: Aldo Rossi e Michael Graves.

Continuamos em Itália, mais precisamente em Milão, onde Ettore Sottsass (o designer que se tornou conhecido pela sua colaboração com a Olivetti) reúne uma série de arquitectos e designers no grupo Memphis, um movimento pós-modernista interessado em provocar reacções e estabelecer debates, e que explorava a superfície da forma em que a cor e a decoração serviam o impacto imediato do que por vezes chegava a ser estranho e bizarro (veja-se o exemplo  da famosa estante Carlton, feita de troços de fórmicas coloridas, da autoria do próprio Sottsass). Michael Graves é convidado pela Alessi para, desta vez, experimentar o desenho de produtos produzidos em série para grandes massas e em 1985 sai para o mercado a chaleira 9093, uma das imagens de marca da marca e do arquitecto que agora era também designer. Uma forma cónica em aço inoxidável polido com elementos em plástico colorido e a cereja no topo do bolo, um pássaro vermelho escuro que assobiava o aviso de água a ferver, introduziam no ambiente doméstico a graça levada a sério. A chaleira conseguiu isso, produzir um efeito semelhante ao de um cartoon. Introduziu o conceito de objeto narrativo no ambiente das cozinhas. Foi o número um das vendas da Alessi durante pelo menos 15 anos e surpreendentemente continua na lista dos top 10. Já passou do seu tempo, do tempo da surpresa e da novidade, e a pergunta surge: o que faz com que uma peça se torne num ícone? Longe de ter um desenho intemporal que resista tantas décadas, o que faz com que a vida útil desta chaleira tão datada, do pós-modernismo se expanda para além das “recomendáveis” tendências actuais? Será a força do seu impacto inicial? Será que o seu lado “poético” transversal não tem idade?


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