"Ninguém quer desistir" na recta final para chegar a um acordo com o Irão

Negociações em curso na Suíça serão retomadas na próxima semana. Delegações alimentam optimismo quanto à assinatura de um compromisso sobre o programa nuclear iraniano antes do fim de Março.

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Celebrações do Noruz, a festa de ano novo persa BEHROUZ MEHRI/AFP

No Irão, a assinatura de um acordo para travar o desenvolvimento do seu controverso programa nuclear é vista como uma concessão: um mal necessário para levantar o país da crise e acabar com uma confrontação que mantém o regime na iminência de um conflito militar. Para o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, é a “melhor oportunidade em décadas para garantir um futuro diferente” na relação entre os dois países.

Numa mensagem aos líderes e ao povo do Irão, difundida pela Casa Branca a propósito do Nowruz, o feriado que assinala o Ano Novo Persa, Barack Obama manifestou a sua confiança num desfecho positivo das negociações em curso há um ano, depois da abertura histórica de Teerão à limitação e supervisão do seu programa nuclear, em troca do levantamento das sanções económicas que atiraram o país para uma das maiores crises económicas da sua história.

O líder norte-americano reconheceu que tanto nos EUA como no Irão “e outros países” (uma referência velada a Israel) há quem não esteja interessado e se oponha a uma resolução diplomática do dossier nuclear iraniano. “Mas eu acredito que as nossas nações podem não ter outra oportunidade para resolver este assunto de forma pacífica – e por isso, não a podemos desperdiçar”, sublinhou.

O fracasso, alertou Obama, teria consequências mais graves para Teerão do que Washington. Sem acordo, o Irão continuará no rumo actual, “que levou ao isolamento do resto do mundo, que causou tantas dificuldades às famílias iranianas, que privou tantos jovens dos empregos e oportunidades que mereciam”, lamentou.

Ainda não há fumo branco, mas a expectativa é que o acordo – que não está fechado – possa finalmente ser alcançado na próxima semana. As negociações, que estão a decorrer na cidade suíça de Lausanne, foram interrompidas esta sexta-feira e serão retomadas na próxima quarta, para que ambas as equipas pudessem “consultar” os seus assessores técnicos e políticos e “coordenar” com os respectivos Governos, segundo explicou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, citado pela AFP.

“Chegamos ao momento crucial. Ainda temos uma ou duas questões críticas para resolver, e um ou dois pontos a afinar noutras matérias. Mas fizemos progressos significativos”, disse o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, aos jornalistas que montaram vigília à porta do hotel de cinco estrelas onde decorrem (e que é o mesmo onde, em 1923, foi assinado o tratado que pôs fim ao império otomano e fixou as fronteiras modernas da Turquia).

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e o negociador russo, Sergei Riabkov, também disseram que o processo estava a “correr muito bem” – tão bem que ninguém admite a hipótese de falhar os prazos estabelecidos: 31 de Março para fechar o compromisso político, e 30 de Junho para assinar o acordo definitivo. “Ninguém quer desistir. Todos queremos e precisamos deste acordo”, desabafou à Reuters um dos negociadores ocidentais, que preferiu não identificar-se.

Segundo a agência britânica, as duas “questões críticas” para as quais ainda não há consenso entre as partes dizem respeito ao estabelecimento de limites à investigação e desenvolvimento de centrifugadoras nucleares avançadas – um tema que é sensível uma vez que são estas máquinas que permitem purificar o urânio usado tanto nos reactores nucleares como no armamento atómico –, e ao levantamento imediato das sanções que penalizam. Os parceiros 5+1 falam numa eliminação progressiva das barreiras que, mas os negociadores iranianos querem que o embargo das Nações Unidas à venda de armas convencionais, bem como as restrições dos EUA e da União Europeia que afectam o sector financeiro e da energia sejam anuladas após a assinatura do acordo.

Em vez de prenunciar o fracasso, a extensão do prazo negocial foi interpretada como um sinal de esperança. Ao final da manhã, o desânimo instalou-se brevemente quando se confirmou que, ao contrário do que se aguardava, os representantes dos restantes membros do chamado grupo P5+1 (EUA, Rússia, China, Alemanha, França e Reino Unido) não viajariam para Lausanne. A sua chegada era a prova de que um compromisso já estaria pronto para ser assinado – no entanto, o anúncio do prolongamento das consultas e reatamento das negociações permitiu manter o optimismo.

Foi a equipa iraniana que pediu para interromper as negociações, para poder viajar para Teerão a tempo de participar nas cerimónias fúnebres da mãe do Presidente, Hassan Rouhani, e nos festejos do ano novo persa. Pelo seu lado, os aliados ocidentais marcaram um novo encontro para sábado, para concertar posições e “demonstrar unidade” – John Kerry confirmou que reuniria com os seus homólogos da França, Reino Unido e Alemanha, antes de voar até Washington para acompanhar a visita oficial do Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, aos Estados Unidos.

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