Pharrel Williams teme uma indústria musical paralisada por processos judiciais

Em declarações ao Financial Times o autor de Blurred lines defende que a sua condenação por plágio pode condicionar a inspiração não só dos músicos, mas de artistas de todas as áreas criativas

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A canção interpretada por Pharrell Williams e Robin Thicke gerou um lucro de 16 milhões de dólares (cerca de 14,8 milhões de euros) AFP PHOTO / Larry Busacca

Pharrell Williams falou e o que afirmou vai no sentido das dúvidas levantadas por alguns especialistas da indústria musical perante a condenação por plágio do cantor. Em declarações publicadas esta sexta-feira no Financial Times Pharrell defendeu que “o veredicto condiciona qualquer criador que esteja a fazer algo que possa ser inspirado noutra coisa”, acrescentando que as implicações não se limitam à música, mas a todas as áreas criativas. “Se perdermos a liberdade para sermos inspirados, acordaremos um dia e a indústria do entretenimento estará paralisada por processos [judiciais]”.

As declarações de Pharrell surgem depois de, enquanto autor de Blurred lines, um dos maiores sucessos de 2013, ter sido condenado juntamente com Robin Thicke, com quem interpretou a canção, ao pagamento de 7,4 milhões de dólares (cerca de sete milhões de euros) aos três filhos de Marvin Gaye por plágio de Got to give up, um clássico de 1977 da lenda da soul.

A decisão, tomada num tribunal de Los Angeles, foi anunciada a 10 de Março. “Agora sinto-me livre. Livre da teia de Pharrell Williams e de Robin Thicke, daquilo que eles tentaram fazer e das mentiras que foram ditas”, reagiu Nona Gaye, uma das filhas de Marvin Gaye. Williams e Thicke, por sua vez, emitiram na mesma altura um comunicado conjunto em que afirmavam que a condenação “cria um precedente terrível para que a música e a criatividade possam evoluir”.

Processos por plágio são recorrentes na indústria musical, este, porém, alarga pela primeira vez o seu âmbito e pode criar um precedente legal. O júri de oito pessoas não condenou a apropriação não creditada de uma sequência de notas ou acordes, antes a alegada cópia do ambiente e sentimento da canção.

Enquanto era noticiada esta quinta-feira uma acção judicial, por parte dos filhos de Marvin Gaye, para proibir a venda, distribuição e interpretação ao vivo de Blurred lines, bem como a intenção de incluir o rapper TI (autor de um verso da canção) e as editoras Universal Music, Interscope Records e Star Trak Entertainment na condenação por plágio, cresciam os receios, também fora da indústria musical, pelas consequências futuras provocadas pela decisão do tribunal de Los Angeles. No artigo hoje publicado no Financial Times, o poderoso e oscarizado produtor cinematográfico Harvey Weinstein confessa ser “perturbador” imaginar que um cineasta poderá agora processar outro por ter criado um filme com um ambiente semelhante ao seu.

Quarta-feira, Nona Gaye, Frankie Gaye e Marvin Gaye III emitiram uma carta aberta em que defenderam que o, se o seu pai fosse vivo (Marvin Gaye morreu em 1984), estaria aberto às novidades tecnológicas mas também “vigilante quando à salvaguarda dos direitos dos artistas. Ele também dava crédito a quem era devido”. Na carta, afirmam ainda que o processo não teria acontecido se Pharrell Williams e Robin Thicke tivessem creditado Marvin Gaye em Blurred lines. “Teríamos tido todo o gosto numa conversa com eles antes da edição do seu trabalho”.

Pharrell Williams não decidiu ainda se interporá recurso contra a condenção. “Estamos a definir neste momento quais serão os próximos passos”.

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