Conjunto monumental da Via-Sacra da Mata do Buçaco está em risco

Estudo da Universidade de Aveiro recomenda a realização de obras urgentes nos edifícios construídos pela Ordem dos Carmelitas Descalços, a partir do início do século XVII.

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A passagem de ujm ciclone em 2013 afectou severamente, devido à queda de árvores, algumas capelas e ermidas da Via-Sacra Nelson Garrido
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Carla Carvalho Tomásn

O alerta é lançado pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro: “os 32 edifícios do conjunto monumental da Via-Sacra da Mata do Buçaco precisam de obras urgentes de reabilitação sob o risco de degradação irreparável”. Após a realização de uma investigação que pretendeu analisar o estado actual e riscos dos edifícios construídos pela Ordem dos Carmelitas Descalços - a partir do início do século XVII -, os investigadores notam que, se nada for feito, a degradação pode chegar a um ponto “irreversível”.

Uma conclusão que não apanhou de surpresa os dirigentes da Fundação Mata do Buçaco, que já estão a preparar uma candidatura a fundos comunitários para realizar as intervenções mais prementes nos edifícios construídos essencialmente de materiais cerâmicos, argamassas de cal e cortiça. Importa referir que este património edificado é um dos principais ex-libris da mata nacional, que conta também com uma das melhores colecções dendrológicas da Europa - com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos, com exemplares notáveis.

Além da própria degradação de todos os edifícios, o estudo da UA, orientado pelos investigadores Ana Velosa e Luis Mariz, nota ainda que parte significativa dos edifícios se encontram em zonas de perigo de queda de árvores e mais de duas dezenas podem sofrer graves consequências derivadas do escoamento das águas da chuva.

“Nove dos edifícios encontram-se em zonas de perigo de queda de árvores e apenas dois dos trinta e dois edifícios monumentais estão localizados em áreas com declive inferior a 20%. Todos os outros estão em terrenos com declive que varia entre 20 a 60%”, apontou Rui Veiga, estudante de Engenharia Civil na UA e autor da tese de Mestrado que faz a análise dos riscos da Via-Sacra do Buçaco. Em termos práticos, isto quer dizer que se uma queda de árvore nos edifícios expostos a esse risco “pode destruir coberturas e paredes, causando degradação acelerada dos edificados devido, por exemplo, à entrada de água e colonização biológica”, os declives entre os 20 e os 60% nos terrenos onde foram construídos grande parte dos edifícios “acentuam a presença de água em algumas empenas [paredes laterais de um edifício], potenciando a sua degradação”.

Contudo, e segundo fez questão de vincar Ana Velosa, “os declives são um problema menor para a Via-Sacra face à possibilidade da massiva queda de árvores por acção de ciclones” tal como aconteceu, em 2013, com a passagem do Gong que devastou cerca de 40% da Mata e afectou severamente, devido à queda de árvores, algumas capelas e ermidas da Via-Sacra. Um fenómeno meteorológico que, vincou a investigadora, “pode voltar a acontecer”.

Fundos comunitários são a única saída
Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Fundação Mata do Buçaco (FMB), António Gravato, confessou que o trabalho da UA – que tem vindo a trabalhar em parceria com a FMB - só veio confirmar aquilo que já temiam quanto à urgência da realização de obras. “Neste momento, não disponho de números exactos, mas posso referir que estas intervenções necessárias para salvar os edifícios da Via-Sacra ascenderão a um montante elevado”, declarou António Gravato, ao mesmo tempo que garantia que a FMB está já a preparar alguns projectos para candidatar a fundos comunitários, através do Programa Operacional Regional do Centro (Centro 2020). “É a única forma de conseguirmos suportar esses investimentos”, frisou o presidente da FMB.

A recuperação do património edificado vem, assim, juntar-se à outra grande batalha que a Mata do Buçaco tem vindo a travar: a preservação da floresta. Uma das partes mais visíveis dessa “batalha” passa pelo Projecto BRIGHT (Bussaco’s Recovery from Invasions Generating Habitat Threats). O objectivo é recuperar e proteger as várias áreas naturais da Mata, especialmente a Floresta Relíquia, sendo que uma das principais acções contempladas é o controlo de plantas invasoras. Este projecto termina em 2016, mas, segundo adiantou o presidente da FMB ao PÚBLICO, a ideia passa por vir a promover uma segunda edição. 

Património edificado da Mata em debate
O estudo desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Civil da UA vai ser apresentado e discutido durante o I Seminário sobre o Património Edificado do Buçaco. Organizado pela Fundação Mata do Buçaco, pela universidade aveirense e pela Câmara Municipal da Mealhada, o encontro pretende “marcar um momento decisivo para as acções de salvaguarda e protecção do Património Edificado do Deserto dos Carmelitas Descalços do Buçaco”, refere a organização, em comunicado.

 O seminário decorrerá no próximo dia 27, ao longo de todo o dia, no monumental Palace Hotel do Bussaco e vai reunir especialistas dos materiais usados nas construções do Buçaco e eminentes investigadores da História, do Património Arquitectónico e Paisagístico do Buçaco.

 

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