O número dois do Prado vai ser o número um da National Gallery

Gabriele Finaldi vai regressar ao museu onde foi conservador de pintura italiana e espanhola. Há já meses que se falava na sua nomeação. Uma perda para Madrid, um ganho para Londres.

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Gabriele Finaldi no Museu do Prado, na apresentação de uma retrospectiva dedicada a Tintoretto, em 2007 Philippe Desmazes/AFP

O cargo ter-lhe-á sido proposto em Dezembro, a notícia da sua nomeação foi avançada em Janeiro, depois de rumores persistentes, mas a confirmação oficial, com direito a ratificação do primeiro ministro David Cameron e a comunicado, só chegou esta quarta-feira – Gabriele Finaldi, número dois do Museu Nacional do Prado, em Madrid, vai ser o novo director da National Gallery de Londres.

O historiador de arte assume funções naquele que é um dos museus mais importantes do mundo a 17 de Agosto. O novo cargo garante, de certa forma, é um regresso a casa: Finaldi nasceu em Londres em 1965, tem cidadania britânica e foi conservador de pintura italiana (de Caravaggio a Canaletto) e espanhola (de Bermejo a Goya) da National Gallery entre 1992 e 2002, ano em que se mudou para Madrid.

No comunicado em que anuncia a chegada do historiador, em substituição de Nicholas Penny, que revelou estar de saída no Verão passado, a National Gallery sublinha que é a Finaldi que se deve em boa parte a supervisão da “extraordinária transformação” do Prado, que incluiu a extensão do museu, aberta em 2007, e a inauguração do Centro de Investigação, no ano seguinte. O museu londrino destaca ainda o facto deste anglo-italiano formado no Dulwich College e no Coutauld Institute of Art ser o responsável pelas negociações que levaram à aquisição de duas importantes pinturas: uma do flamengo Pieter Bruegel, o Velho, e outra do francês Colart de Laon.

No mesmo documento enviado às redacções, Finaldi, que não tinha ainda comentado a notícia divulgada em Janeiro pelo diário britânico Financial Times– também não havia até aqui qualquer reacção da National Gallery nem do Museu do Prado -, diz-se “profundamente honrado” por ter sido escolhido para substituir Nicholas Penny e garante que está “ansioso” por vir a desenvolver um “programa de exposições entusiasmante” e projectos nos sectores da educação e da investigação.

“Esta é uma colecção de classe mundial numa cidade também ela de classe mundial”, acrescenta Finaldi, assegurando estar preparado para trabalhar com os administradores e a equipa do museu no sentido de “fortalecer a sua ligação ao público e a sua posição internacional”. O historiador falhara por pouco a nomeação em 2008, sendo Penny o seleccionado (tanto um como outro são historiadores respeitados e privilegiam a investigação).

Alegria e tristeza em Madrid

No Prado, a nomeação do ainda director-adjunto deixa um sentimento de orgulho, mas também de perda, tudo porque o historiador teve um papel absolutamente determinante nos últimos anos da vida do museu. “Gabriele Finaldi contribuiu, de maneira decisiva, para a modernização do Museu do Prado na última década”, reconheceu Miguel Zugaza, o seu director, citado no comunicado da National Gallery. “Em particular na internacionalização e no desenvolvimento de projectos de conservação e investigação”, acrescentou.

Na breve e informal intervenção que fez esta quarta-feira de manhã, numa conferência de imprensa improvisada no museu, Zugaza felicitou o colega e amigo pelo novo cargo, agradeceu-lhe os 12 anos de dedicação e reconheceu que a sua saída será um duro golpe: “Muita gente, muitos dos teus colegas, pudeste comprová-lo desde que a notícia começou a circular, estão alegres com a tua nomeação e tristes porque te vais embora. Mas ninguém vai celebrá-la com mais alegria nem senti-la mais do que eu.”

Chegado ao museu na Primavera de 2002, “como um anglo-italiano casado com uma espanhola” com o objectivo de contribuir para o processo de modernização previsto, tarefa que cumpriu “muito acima de todas as expectativas”, Gabriele Finaldi regressa agora à National Gallery, defende o director, “como um contributo espanhol, e em particular do Prado, para um dos grandes museus internacionais”.

Tal como a National Gallery, que destaca ainda o “impressionante programa de exposições” que o historiador de arte organizou no museu madrileno – Ticiano (precisamente com este museu londrino, em 2003), O Retrato Espanhol de El Greco a Picasso (2006), ou Turner e os Mestres (com a Tate Britain e o Louvre, em 2010) –, Miguel Zugaza sublinha o papel de Finaldi na aquisição das obras de Pieter Bruegel e Colart de Laon, dois “extraordinários contributos” para a colecção, e a sua entrega aos projectos de investigação. Concluindo, o director definiu a passagem de Finaldi por Madrid como “um grande parêntesis espanhol” na sua “mais do que prometedora carreira britânica”.

Chegado à National Gallery, Finaldi poderá contar com um museu que tem apresentado um concorridíssimo programa de exposições – Inventing Impressionism: The man who sold a thousand Monets, a actual, dedicada ao negociante de arte Paul Durand-Ruel, promete ser mais um blockbuster – e um número crescente de visitantes, mas terá de lidar também com problemas laborais.

Nos últimos meses, escreve o diário britânico The Guardian, a contenda entre a administração e o sindicato que representa alguns trabalhadores levou já a várias greves. Em causa estão os planos para privatizar todos os serviços de apoio ao visitante.

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