Milionário americano diz ter assassinado três pessoas a programa da televisão

Robert Durst é o herdeiro de uma das maiores fortunas do imobiliário nova-iorquino. Há 30 anos que a polícia tentava encontrar provas contra ele. Mas será que o consegue condenar?

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Robert Durst num tribunal de Nova Iorque em 2004, onde foi julgado por entrar ilegalmente numa propriedade da família Mike Sega/Reuters

Esta é a história de um multimilionário americano que foi apanhado pelo assassínio de três pessoas quando começou a falar sozinho numa casa de banho. Robert Durst, de 71 anos, acabara de gravar as últimas cenas de um documentário sobre a sua suspeita vida e foi à casa de banho. Ainda tinha o microfone preso na roupa e não terá percebido que continuava ligado. Quase em murmúrio, começou a falar sozinho: "Pronto! Foste apanhado. O que diabo fiz eu?... Matei-os a todos, claro".

A gravação foi entregue à polícia, que o prendeu no sábado, num hotel de Nova Orleães, onde se refugiara sob um nome falso.

Há três décadas que a polícia tentava pô-lo atrás das grades. Durst, que é um dos herdeiros da gigante do imobiliário Durst Organization, proprietária de 11 arranha-céus em Manhattan, incluindo o One Trade Center (erguido no local onde estavam as torres gémeas), tornou-se suspeito de assassínio em 1982, quando a sua mulher, Kathleen ("Kathie"), desapareceu depois de passar um fim-de-semana numa casa do casal, em Westchester. A polícia não encontrou o corpo e não conseguiu levá-lo a julgamento.

Durst cortou relações com a família, foi preso várias vezes por crimes menores, como entrar ilegalmente em propriedades da família, voltou a casar e processou o irmão mais novo, Douglas, exigindo os 65 milhões de dólares da sua parte na herança. Disse sempre estar inocente da morte da primeira mulher e negou também o assassínio de uma amiga, Susan Berman, a filha de um conhecido gangster de Las Vegas, encontrada morta a tiro na sua casa  de Los Angeles.

Em 2003 foi julgado pela morte, dois anos antes, de uma mulher em Galveston, no Texas, onde vivia escondido e mascarado de idosa muda desde a reabertura do inquérito à morte da primeira mulher, conta a BBC. Apesar de a vítima, uma mulher de idade, ter sido desmembrada, Durst defendeu em tribunal que a matou em autodefesa e foi absolvido.

Recentemente, Durst recebeu uma proposta da estação de televisão HBO para a realização de um documentário em seis partes intitulado The Jinx: The live and deaths of Robert Durst (Má sorte: a vida e mortes de Robert Durst), que revisitaria a estranha e polémica vida do herdeiro. Durst admite para as câmaras que mentiu à polícia sobre os seus movimentos no dia em que a mulher desapareceu, mas nega ter usado os seus conhecimentos na máfia (feitos através de Susan Berman) para fazer desaparecer o corpo num pinhal de Nova Jérsia.

Mas os produtores tinham um trunfo na mão com o qual pretendiam confrontá-lo.

Quando Susan Berman apareceu morta, a políca de Los Angeles recebeu uma carta do assassino. A carta, em letras maiúsculas, tinha uma particularidade — a palavra Beverly Hills estava mal escrita. Durst já tinha considerado, num episódio anterior, que essa carta só podia ter sido escrita pelo assassino. Na gravação do último segmento do documentário, os produtores da HBO mostraram a Durst uma carta que ele escreveu a Susan e que, além de também estar em maiúsculas, tem uma letra idêntica e exactamente o mesmo erro em Beverly Hills.

Primeiro, Durst reage com normalidade. "Estou a ver o tipo de conclusão a que a polícia pode chegar", diz para as câmaras. Num segmento seguinte, desvaloriza as semelhanças entre os documentos, diz que a única semelhança é o erro ortográfico. A gravação termina e o entrevistado segue para a casa de banho.

É ali dentro que tudo acontece. Agindo de forma que dá ideia que não sabe que o microfone está ligado, começa a falar sozinho. "Pronto, foste apanhado", diz para si próprio. "O que diabo fiz eu?... Matei-os a todos, claro".

Não se sabe em que momento a estação de televisão passou o fragmento do documentário à polícia, diz o jornal The New York Times. Mas, no sábado, a polícia federal FBI – que não voltou a encerrar o caso do desaparecimento de Kathie Durst e crê que Berman foi morta por saber o que aconteceu a Kathie – prendeu-o no centro de Nova Orleães (Louisisna), quando saia de um hotel, e acusou-o, para já, do homicídio de Susan Berman.

Durst aceitou ser enviado para a Califórnia, para ser julgado pelo homicídio de Susan Berman em Los Angeles. Mas está por apurar se a confissão é válida em julgamento, uma vez que Durst não sabia que a sua voz estava a ser gravada naquele momento.

A sua família, através do irmão mais novo, Douglas Durst, emitiu um comunicado a dizer esperar que Robert "pague finalmente por tudo o que fez".

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