Colecção de arte de Ana Maria do Espírito Santo Silva leiloada em Londres

A Christie's vai leiloar em Londres, a 29 de Abril, a colecção de arte que a neta do fundador do BES herdou do pai, Ricardo do Espírito Santo Silva, o mecenas e coleccionador a quem se deve a criação do Museu de Artes Decorativas de Lisboa.

Foto
Ana Maria do Espírito Santo Silva

A colecção de arte de Ana Maria do Espírito Santo Silva (1928-2014), que inclui pinturas, desenhos, móveis, porcelanas e pratas de várias épocas e proveniências, vai ser leiloada em Londres no dia 29 de Abril pela Christie’s, que destaca neste conjunto uma rara taça chinesa do século XVIII, do período Qianlong, decorada a partir de uma pintura de William Hogarth, que poderá atingir os 140 mil euros.

Neta de José Maria Espírito Santo Silva, o fundador da empresa que deu origem ao Banco Espírito Santo, e filha mais nova de Ricardo do Espírito Santo Silva (1900-1955), que dirigiu o BES nos anos 30 e foi um importante mecenas e coleccionador de arte, Ana Maria do Espírito Santo Silva, que morreu no ano passado, era mãe da ex-ministra da Cultura Maria João Bustorff e tia de Ricardo Salgado, que liderava o grupo familiar quando o BES colapsou.

A colecção vai à praça dividida em cerca de 150 lotes e, segundo a Christie’s, corresponde ao “mais consistente núcleo da colecção original de peças francesas, chinesas, italianas e inglesas” que Ricardo do Espírito Santo Silva reuniu. A Christie’s descreve-o como um “verdadeiro conhecedor” , “um dos maiores coleccionadores do seu tempo” e “um dos mais importantes patronos das artes em Portugal".

A sua filha Ana Maria, que tinha apenas 26 anos quando o pai morreu, preservou e cuidou deste legado, refere ainda o comunicado da leiloeira.

Além da colecção privada que se manteria nas mãos da família, este banqueiro, mecenas e desportista deixou cerca de duas mil peças na Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (FRESS), que criou em Lisboa em 1953 e que funciona, sob a tutela da Secretaria de Estado da Cultura, como museu e escola de artes decorativas.

Em Novembro do ano passado, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), escreve a agência Lusa, abriu um processo de classificação da colecção de obras de arte da FRESS por a considerar relevante para o património cultural português. Uma decisão tomada pouco depois de a Fundação ter anunciado que iria procurar tomar medidas para garantir a sustentabilidade financeira da instituição, que ficara em risco com a derrocada do Grupo Espírito Santo, de onde provinham os seus principais mecenas.

Contactada pela Lusa, a DGCP esclareceu que a abertura do procedimento de classificação diz apenas respeito ao acervo da FRESS. “A colecção referida no leilão da Christie's é outra colecção”, esclarece a DGPC.

Ao ser alvo da abertura de um processo oficial de classificação, a colecção da FRESS ficou sujeita a determinadas normas previstas na Lei do Património Cultural, que obrigam a comunicar às autoridades quaisquer situações de perigo, de alienação, de mudança de lugar dos bens ou de intervenções de restauro.

Já para vender a colecção privada de Ana Maria do Espírito Santo Silva fora do país, “houve um pedido de exportação por parte dos herdeiros, como é obrigatório nos termos da lei”, disse ao PÚBLICO Maria Resende, da DGPC. “Depois da análise e do estudo por parte dos serviços da DGPC, foi dada autorização de exportação”, acrescenta a mesma fonte, donde parece poder concluir-se que não foi aberto nenhum processo de classificação ao núcleo que irá ser leiloado no final de Abril.

Sugerir correcção
Comentar