Cartas à Directora

Experiência turística e autenticidades

A propósito do artigo de opinião de José Miguel Figueiredo  (JMF) “O metro não sabe falar inglês”, disponibilizo-me para fornecer ao seu autor umas boas dezenas de artigos científicos recentes, ilustrados por estudos de caso um pouco por todo o mundo, sobre a experiência turística nas suas dimensões da pluralidade, desdiferenciação e subjectividade e na sua natureza quanto à autenticidade objectiva, construída ou simbólica e existencial.

Os turistas procuram e coleccionam experiências autênticas. Seja, por exemplo, por via do consumo de objectos classificados como os patrimónios materiais e imateriais da Humanidade ou das histórias e memórias dos povos, num consumo de autenticidade objectiva; seja por via do consumo simbólico de objectos a que atribuem significado como os festivais e tantos outros; seja finalmente por via da busca de si próprio ou dos outros, num processo onde o Eu e Outro, consubstanciam a natureza da experiência turística como existencialmente autêntica.

Uma coisa é certa e transversal  na natureza da experiência turística: consumir o local ou manter a ilusão que os lugares não foram, deliberadamente, alterados para consumo turístico.

O turista é por natureza anti turista. Mesmo no meio de uma multidão de turistas. O metro londrino fala inglês. Porque em Londres fala-se inglês. O metro parisiense fala francês, porque em Paris fala-se francês. O metro lisboeta fala português porque em Lisboa fala-se português. É isto que o turista espera.

Pôr o metro lisboeta a falar inglês não faria com que em Lisboa se respirasse um clima mais cosmopolita e internacional como argumenta JMF, mas faria sim com que fossemos olhados como provincianos, expressão que o autor utiliza para argumentar que aqueles que entendem que a cidade não deve subjugar-se aos interesses turísticos ao ponto de perder a sua identidade cultural, são provincianos.

O que JMF claramente desconhece é que essa é mesmo a melhor forma de afastar os turistas. E next stop, parafraseando o autor, pode ser uma qualquer outra cidade europeia.

Graça Joaquim, Professora da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, Investigadora do Cies-Iscte.Iul

 

Mulheres que lutam

Na Semana da Mulher, a Associação Empresarial da Póvoa de Varzim (AEPV) e o Movimento Lírio Azul (MLA) homenagearam empresárias com 25 anos de associadas. Paula Cristina, fundadora e presidente da Associação Nacional de Amputados foi também homenageada. A dirigente nacional da A.N.A é merecedora desta distinção. Paula Cristina distribui a solidariedade que não teve aquando do atropelamento que levou à amputação da perna esquerda, aos 34 anos, chamando a atenção para  a falta de apoio moral nos hospitais. Os amputados reclamam carinho e compreensão durante o período em que se encontram hospitalizados! As mulheres ocupam lugares de destaque na sociedade portuguesa. A pasta das finanças, justiça e a presidência da Assembleia da República são comandadas por mulheres. Na Europa, Ângela Merkel é a toda poderosa chanceler alemã. Ao mesmo tempo que mulheres trabalhadoras são evocadas e alvo de homenagens, o terrorismo familiar continua a fazer vítimas.

Honradas mulheres continuam a tombar vítimas de violência doméstica. É urgente um plano nacional de prevenção e combate a este flagelo. Honradas mulheres continuam a lutar por melhores condições de vida. Devemos evocar todas as mulheres que veem os seus mais elementares direitos espezinhados. Não nos podemos preocupar apenas com as mulheres ocidentais!

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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