Marilynne Robinson vence prémio da crítica literária com Lila

A autora de Lila, romance que vem fechar a trilogia centrada em Gilead, uma cidade imaginária no Iowa, escreveu apenas quatro romances em 34 anos, mas todos eles receberam prémios importantes e foram consensualmente elogiados pela crítica

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Marilynne Robinson foi criada na fé presbiteriana, mas aderiu depois ao congregacionismo dr

A ficcionista e ensaísta norte-americana Marilynne Robinson venceu nesta quinta-feira o prestigiado National Book Critics Circle Award pelo seu mais recente romance, Lila, terceiro e último volume de uma trilogia iniciada há dez anos com a publicação de Gilead (editado na Difel, em 2006, com o título Ao Meu Filho).

O júri do prémio – atribuído anualmente pela associação profissional de críticos literários dos Estados Unidos – afirmou que Lila é “outro milagoroso e memorável retrato americano” e elogiou a autora pela sua “gloriosa linguagem atravessada de luz e graça”.

Presume-se que ao usar a palavra “outro” o júri tenha querido dizer que considerava igualmente notáveis os anteriores volumes desta trilogia situda em Gilead, uma cidade ficcional no Iowa, talvez não muito diferente, apesar da distância geográfica entre os dois estados, de Sandpoint, no Idaho, onde Robinson nasceu em 1943.

Gilead (2004), que ganhou um prémio Pulitzer, é um romance em forma de uma longa carta, escrita no final da vida por um padre protestante congregacionista, John Ames, ao seu filho de sete anos. Ames é casado com uma mulher muito mais nova do que ele, Lila, e é a perspectiva desta que Robinson agora assume neste romance, relatando a sua vida, desde a traumática infância ao casamento com Ames. O livro, uma prequela de Gilead, fecha com o nascimento do filho de ambos.

Entre ambos os livros, a autora publicou Home (2008), que também se passa em Gilead e também envolve um reverendo, mas que não tem relação directa com a história de Ames e Lila.

Antes desta trilogia, Marilynne Robinson publicara apenas o seu romance de estreia, Housekeeping (1980) – Laços de Família, na edição portuguesa da Difel –, que chegou à final do prémio Pulitzer  e ganhou o prémio de revelação PEN/Hemingway. O jornal britânico The Guardian incluiu o livro numa lista dos cem melhores romances de todos os tempos.

Mesmo tendo em conta que Robinson é também autora de vários livros de ensaios, quatro romances em 34 anos é uma produção invulgarmente escassa, sobretudo nos tempos que correm. Mas a escritora americana é uma espécie de Terrence Malick da literatura, e cada novo livro que publica parece justificar plenamente o tempo de que necessitou para o escrever.

Admiradora de João Calvino – “Se as pessoas realmente lessem Calvino, em vez de Max Weber, ele seria recuperado: é um pensador muito respeitável”, disse a autora numa entrevista em 2012 –, Robinson foi criada na fé presbiteriana, mas aderiu depois ao congregacionismo, e chega por vezes a pregar na Igreja Unida de Cristo, a mesma confissão a que pertence o actual Presidente americano, Barack Obama, assumido admirador da romancista.

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