Embalados por Panda Bear

O novo álbum do músico americano foi apresentado ao vivo esta quarta-feira em Lisboa. Uma experiência imersiva com sons, vozes e imagens lá dentro.

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Luís Martins
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Esta quarta-feira à noite foi apresentado ao vivo, no há muito esgotado Teatro Maria Matos, o novo álbum do americano a viver há dez anos em Lisboa, Noah Lennox, mais conhecido por Panda Bear, também membro do grupo Animal Collective.

Panda Bear Meets The Grim Reaper, assim se chama a obra, lançada em Janeiro, foi até agora um dos discos mais festejados de 2015. Merecidamente, diga-se. No percurso a solo do americano é um álbum mais próximo de Person Pitch (2007), na forma como o brilho psicadélico se propaga e a bricolagem sonora de sensibilidade pop é trabalhada, do que o anterior Tomboy (2011), mais fechado sobre si próprio.

O novo registo é talvez a sua obra mais expansiva, com canções habitadas por elementos melódicos que exalam optimismo, embora algumas letras contenham referências a dores de crescimento. Dir-se-ia um disco de balanço, onde olha para trás para melhor renascer no presente e perspectivar o futuro.

Em conversa com ele, aquando do lançamento do álbum, comparava o processo de feitura das canções ao acto de atirar intuitivamente elementos musicais para uma parede branca (harmonias vocais, efeitos dub, climas psicadélicos) e fosse compondo um cenário coerente a partir dessa desordem.

Ao vivo pensa-se nisso, com ele disposto detrás de maquinaria e de uma grande tela, por onde vão desfilando imagens da autoria de Danny Perez, às vezes grotescas, outras apenas abstractas. A ladeá-lo, nos extremos do palco, dois holofotes irradiam luz para o público de vez em quando, cegando-o.

Ao contrário do que acontece nos concertos dos Animal Collective, que se aproximam por vezes da apoteose ritualista, nos seus espectáculos a solo existe maior rigidez e contenção, apesar de a sua voz sobressair de forma mais evidente.

Não é um espectáculo que gere empatia física com um público que esteja mais adaptado a conceitos rock. É mais para ser vivido como uma experiência imersiva. É assim, aliás, que o próprio Panda Bear parece habitar as suas canções em palco, olhos quase sempre cerrados, manipulando sintetizador, tecnologia e programações sensorialmente, enquanto o público, sentado, é embalado pelas canções, que se sucedem sem interrupções.

Há sobreposição de sons, voz e imagens, por vezes guiando-nos para zonas de fantasia (Tropic of cancer ou Boys latin), outras para territórios de maior actividade rítmica (Come to your senses ou Clandlestick maker), numa junção de temas do último álbum e de Tomboy.

Canções com pulsações diferentes, mas do mesmo cosmos, com qualquer coisa de familiar e de alienígena, numa viagem de hora e meia que passa num instante. A próxima paragem é já esta quinta-feira, no espaço GNRation em Braga.

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