“A luta continua”, 50 anos depois da Marcha de Selma

Presidente Obama discursa este sábado na cidade símbolo da luta pelos direitos cívicos na América.

Selma vive um fim-de-semana de clebrações
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Selma vive um fim-de-semana de celebrações Tami Chappel/Reuters
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“O trabalho ainda não terminou”. Barack Obama celebra neste sábado em Selma, Alabama, a marcha pelos direitos cívicos que marcou uma viragem na história dos Estados Unidos ao garantir o direito de voto aos afro-americanos dos Estados do Sul do país.

O primeiro Presidente negro da história dos EUA deve pronunciar um discurso junto à ponte Edmund Pettus, onde no dia 7 de Março de 1965, várias centenas de manifestantes pacíficos foram violentamente travados pela polícia, num ataque que traumatizou a América e que iria levar, alguns meses mais tarde, ao nascimento da Voting Rights Act.

Barack Obama tinha três anos no dia do Domingo Sangrento, em Selma.  Soube dos terríveis acontecimentos pela sua mãe, quando tinha “seis, sete, oito anos”. “Ela dava-me livros para crianças sobre os direitos cívicos e punha discos da Mahalia Jackson (cantora que foi próxima de Martin Luther King)”, recordou o Presidente na véspera da celebração do 50.º aniversário da marcha de Selma.

Esta pequena cidade de 20 mil habitantes (80% negros) preparou-se a rigor para uma fim-de-semana de celebrações que vai contar também com a presença do antigo Presidente George W. Bush e mais de uma centena de congressistas.

A 15.ª emenda da Constituição americana, adaptada em 1870, proíbe a recusa do direito de voto a qualquer cidadão “com base na sua raça ou na sua cor”. Mas em vários Estados do Sul foi durante muito tempo ignorada.

Foi necessário o movimento dos direitos cívicos lançado por Martin Luther King e a tragédia de Selma – ninguém morreu mas as imagens da brutal carga policial contra os manifestantes correram os jornais e as televisões da América e do mundo – para forçar o então Presidente Lyndon Johnson a agir.

Então, o Presidente democrata submeteu ao congresso um projecto-lei que torna-se na Voting Rights Act, uma legislação que levantava as barreiras que impediam os negros de votar em vários Estados do Sul do país. Uma lei que foi sendo contestada ao longo dos anos por republicanos que tentavam assim limitar os votos de um eleitorado maioritariamente democrata.

Há vários sinais de que “o trabalho ainda não acabou”, 50 anos depois de Selma e Luther King. Uma sondagem do Pew Research Center de Agosto de 2012 mostrava que 79% dos negros norte-americanos consideravam que ainda há muito a fazer para atingir a igualdade racial da América. E dois anos depois, um polícia branco matou um jovem negro em Ferguson, Missouri, o que levou a uma vaga de motins na cidade e a protestos um pouco por todo o país, onde se gritou “as vidas dos negros também contam”. Um relatório publicado esta semana revelou um comportamento racista e discriminatório generalizado na polícia de Ferguson.

“Sobre vários aspectos, a luta que começou em Selma continua”, explicou à AFP Julian Castro, secretário da Habitação no governo Obama. “A América muda e diversifica-se ao mesmo tempo que surgem novas restrições para tentar desencorajar o voto”.

Em Selma, cidade que tem uma taxa de desemprego superior a 10% (o dobro da média nacional) e onde quase 40% dos lares vivem abaixo do limiar da pobreza, a luta é também pela igualdade de oportunidades.

Para Letasha Irby, 36 anos, que trabalha numa fábrica de peças automóveis, “hoje há outros combates para travar “ no Alabama. “Se eles se conseguiram unir há 50 anos numa frente conjunta, isso também podia acontecer agora”, diz esta mulher que ganha 12 dólares por hora e elege como prioridade actual das minorias mais desfavorecidas “a luta por salários decentes”.

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