NATO também diz que há "milhares de soldados russos" na Ucrânia

Aliança atlântica renova acusações sobre uma intervenção armada russa no conflito ucraniano. Moscovo continua a negar a presença de militares no Leste da Ucrânia.

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Responsável da NATO diz que estão "a morrer soldados russos em grandes números no Leste da Ucrânia" DIMITAR DILKOFF/AFP

O secretário-geral adjunto da NATO assegurou nesta quinta-feira que existem “milhares de soldados russos” a combaterem no Leste da Ucrânia. Alexander Vershbow falava numa conferência europeia em Riga, onde assegurou que o objectivo da NATO não é o de procurar um conflito com Moscovo, embora, na sua opinião, “a Rússia não pareça querer integrar-se na comunidade euro-atlântica”.

“Vemos uma Rússia revisionista, irada, que viola regulações internacionais, que quer restituir as suas áreas de influência e está preparada para redesenhar fronteiras de maneira a atingir os seus objectivos”, declarou Alexander Vershbow, citado pela AFP. A agência de notícias não avança, contudo, se Vershbow fez referência a alguma documentação em específico sobre a presença de tropas russas na Ucrânia. 

O secretário-geral adjunto da NATO referiu-se ainda ao assassinato de Boris Nemtsov, um dos principais opositores do Presidente russo Vladimir Putin, abatido a tiro na noite de sexta-feira em Moscovo. Vershbow preferiu não especular sobre a autoria do crime, mas utilizou o caso como prova de que o Kremlin é cada vez menos capaz de "ocultar o facto de estarem a morrer soldados russos em grandes números no Leste da Ucrânia". Na altura de sua morte, Boris Nemstov estaria a investigar a alegada intervenção militar russa no conflito ucraniano.

O tema do envolvimento russo no conflito entre o Exército ucraniano e os separatistas no leste do país já fora abordado na quarta-feira, dia em que o comandante do Exército norte-americano avançou com o maior número até agora referido para a presença russa na Ucrânia. De acordo com Ben Hodges, existem actualmente 12 mil soldados russos a engrossarem as forças rebeldes que combatem no leste do país.

Esta acusação foi desmentida horas mais tarde pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Desde o início do conflito na Ucrânia que Moscovo nega qualquer envolvimento das suas forças armadas.  

Tem subido de tom o debate sobre uma eventual intervenção da NATO no conflito ucraniano, prestando auxílio ao exército de Kiev. No início desta semana, o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas norte-americanas, Martin Dempsey, acusou a Rússia de querer “fracturar a NATO” e aconselhou a que os países-membros da organização considerassem prestar auxílio ao Governo ucraniano sob a forma de meios “letais”.

Também nesta quinta-feira o Kremlin criticou a actuação da NATO e do Ocidente face à Rússia, pela voz do ministro-adjunto da Defesa, Anatoly Antonov.

Citado pela RT, Antonov afirmou que as “nações ocidentais estão a estabelecer novas linhas divisórias, organizando esquemas de contenção contra Estados que não são bem-vindos”.

O ministro-adjunto russo avançou ainda que não se recorda de um período em que as relações diplomáticas entre a Rússia e os EUA estivessem mais difíceis e que, no que toca a intervenções militares na região, “as operações da NATO são muito mais vastas do que as da Rússia”.

Desde a tomada de posse de Petro Porochenko como Presidente da Ucrânia que parlamento e Governo de Kiev se têm alinhado pelo diapasão das forças ocidentais. Em Dezembro, o parlamento ucraniano aprovou por uma larga maioria a renúncia do estatuto de país não-alinhado. Uma decisão tomada como um preparativo para uma futura candidatura à NATO.

Congresso dos EUA pressiona Obama

Numa carta publicada nesta quinta-feira, um grupo de oito membros do Partido Republicano e três do Partido Democrata apelaram ao Presidente norte-americano que aprovasse o “rápido” envio de “sistemas de armas letais e defensivas para o Exército ucraniano”. Um dos signatários é o republicano John Boehner, líder da maioria na Câmara dos Representantes (uma das câmaras do Congresso norte-americano).

A carta, redigida na quarta-feira mas só publicada na quinta, pede alterações à postura dos EUA face ao conflito ucraniano e acusa liminarmente a Rússia de fazer parte da ofensiva dos separatistas de Leste. “Face à agressão Russa, a falta de clareza da nossa [dos EUA] estratégia geral até ao momento pouco contribuiu para dar garantias aos nossos amigos e aliados na região”, lê-se na carta, citada pela Reuters.

Na terça-feira, Barack Obama reuniu-se, através de videoconferência, com os líderes da Alemanha, França e Itália – Angela Merkel, François Hollande e Matteo Renzi, respectivamente.

No final do encontro, os líderes ocidentais acenaram com uma “reacção forte” e novas sanções à Rússia – que, entendem, apoia os esforços dos separatistas do Leste ucraniano –, no caso de se verificarem novas violações dos acordos de cessar-fogo.

Mas, apesar de uma relativa pacificação dos combates ao longo dos últimos dias, o cessar-fogo parece frágil. Também nesta quinta-feira, o Exército ucraniano anunciou que, ao longo das últimas 24 horas, um soldado morreu e outro ficou ferido em combates com as forças separatistas.

De acordo com um conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, citado pela Reuters, os rebeldes pró-russos não só têm violado o cessar-fogo nos arredores de Mariupol – cidade controlada pelas forças de Kiev – como têm, inclusivamente, aumentado o número de combatentes nessa zona. 

Notícia actualizada às 18h38. Acrescentada informação sobre carta publicada por membros do Congresso norte-americano.

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