“Uma nova centralidade” e em “equilíbrio” para Carnide

Arquitecto Falcão de Campos dá a conhecer a sua proposta para o terreno junto à 2.ª Circular e à Estrada da Luz. Quanto às muitas críticas que têm sido feitas por moradores de Telheiras, garante que serão ponderadas.

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O autor do projecto apresentado pela Estamo para o terreno junto ao Lar Maria Droste, em Carnide, Lisboa, sublinha que com a proposta em discussão pretendeu criar “uma nova centralidade”, sem comprometer o desejável “equilíbrio” entre quem vive hoje na zona e os futuros habitantes. “Houve uma quase obsessão de não obstaculizar o vizinho”, garante João Pedro Falcão de Campos.

O chamado Loteamento Maria Droste, que está em discussão pública até 27 de Março, desenvolve-se num terreno expectante junto à 2.ª Circular e à Estrada da Luz. O projecto, apresentado pela imobiliária de capitais públicos à Câmara de Lisboa, foi já objecto de duas sessões de apresentação, e tem sido criticado por moradores de Telheiras e por autarcas locais.

A proposta, assinada pelo arquitecto Falcão de Campos, prevê que no local sejam erguidos 12 lotes, “um ou dois” dos quais destinados a serviços e os restantes a habitação. No interior do conjunto nascerá uma praça de uso público, sendo os pisos térreos de todos os lotes destinados a espaços comerciais

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No terreno, além dos edifícios que albergarão um total de 264 habitações (e não 160, como consta da memória descritiva disponível para consulta no site da câmara), surgirá também um parque urbano. A área que está previsto que a Estamo ceda para esse efeito ronda os 32 mil metros quadrados, mas o vereador do Urbanismo já veio dizer que o novo espaço verde terá cerca de cinco hectares, dado que se estenderá para terrenos camarários.

“Eu acredito muito na cidade, nas virtudes da cidade como local de cidadania, como local de partilha”, começa por explicar Falcão de Campos, numa apresentação do projecto ao PÚBLICO. Neste terreno em Telheiras, o arquitecto acredita que é possível criar “uma nova centralidade”, reunindo num só espaço as diferentes “funções” que compõem uma cidade, como habitação, serviços e comércio.

O arquitecto considera que “o núcleo original de Telheiras, de Vieira de Almeida, tem uma qualidade excepcional”, mas acrescenta que depois disso a zona “foi-se desqualificando”. A partir daí, diz, “foi quinta a quinta, lote a lote”, o que resultou em “vias mal dimensionadas” e em situações em que “o impasse reina”.

Contra essa falta de visão de “conjunto”, e em defesa de “uma cidade aberta, porosa, do diálogo”, Falcão de Campos explica que foi preocupação do seu projecto encontrar “um equilíbrio” entre os actuais e os futuros habitantes da zona. Algo que, segundo diz, está desde logo patente na altura dos edifícios, que não vai além dos sete pisos, quando a média na envolvente é de dez.

“Houve uma quase obsessão de não obstaculizar o vizinho”, garante, defendendo que tal é visível no facto de os novos edifícios serem “altamente arborizados” nas duas frentes e de terem um afastamento dos restantes “muito maior” do que o comum em Telheiras. A isso Falcão de Campos acrescenta a própria posição dos prédios, que não surgem “em paralelo” com os já existentes: o conjunto dos 12 novos lotes tem uma forma curvilínea, com a qual se procurou que se estabelecesse uma “dança” com a envolvente.

O arquitecto também destaca a importância de todos os pisos térreos se destinarem a espaços comerciais, que surgirão “de nível, sem pódio”. A sua ambição é que os habitantes de Telheiras, zona que “peca” pela falta de comércio, deixem de pegar no carro para se dirigir a centros comerciais, passando a encontrar no interior do bairro “o pequeno ginásio, a limpeza a seco, a mercearia, o apoio de bicicletas, o co-work”, entre outros.

Em relação ao parque urbano, Falcão de Campos explica que se pretende criar “um parque local”, que permita “descomprimir um bocadinho os residentes” face à “alta densidade” de construção de Telheiras. No que se refere à preocupação demonstrada por alguns moradores quanto ao ruído nesse espaço verde, dada a proximidade à 2.ª Circular, o arquitecto diz que está previsto que a terra junto a essa via seja trabalhada, para que se forme “um grande talude arborizado” que reduza “o impacto automóvel”.

O autor deste projecto frisa que todas as críticas feitas pelos participantes nas sessões de apresentação e na discussão pública, nomeadamente as relativas à questão do tráfego, serão ponderadas. “Nada é imutável. Naquilo que pudermos melhorar devemos melhorar”, diz, rejeitando qualquer “fundamentalismo”.

Quanto à recusa pura e simples que muitos moradores da zona têm demonstrado em aceitar construções junto ao Lar Maria Droste, Falcão de Campos mostra-se crítico: “Parece-me pouco legítimo e pouco democrático”.

Na página da Câmara de Lisboa na Internet, onde estão disponíveis para consulta peças escritas e desenhadas deste projecto e o estudo de tráfego, é possível preencher um formulário com sugestões, no âmbito da discussão pública que foi prolongada até 27 de Março.

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