A estupidez geral

A estupidez generaliza-se por ser tratada como especial.

Dizem que nós humanos apenas usamos um décimo dos nossos cérebros. Haverá mais convincente demonstração da nossa estupidez? Como sabemos que é só um décimo? Como é que achamos que um décimo é pouco? Um décimo pode ser, comparado com outras espécies ainda mais estúpidas do que nós que são obrigadas a usar 100%, só para terem uma única hipótese de sobreviver, sensacional.

Quando se é novo pensa-se que tudo é uma questão de estudo e de explicação. Mas não é assim. O problema é a enorme variedade de explicações incompatíveis. Infeliz ou felizmente há uma explicação estúpida para todos os níveis de ignorância, que são muitos.

A inteligência é o contrário da sabedoria: é a dúvida. É saber quais são as coisas das quais se pode (e não apenas se deve) duvidar. A inteligência é saber receber de neurónios abertos o prazer de nunca poder saber ao certo.

Quanto mais se vive e se pensa mais se vê que a estupidez se cola à certeza. Quando a certeza dá jeito, simplifica e elogia quem a tem (como acontece em todos os racismos): é um sinal infalível de vistas curtas, egoísmo e vaidade.

A estupidez era considerada como uma ligeira e aleatória deficiência: compreendida, aceite e descontada.

Hoje é vista como uma espécie de inocência: como se a cegueira fosse uma prova física da falta de facciosismo no que toca à escolha das melhores cores e luminosidades.

A estupidez generaliza-se por ser tratada como especial.

Sim, é. Mas é, sobretudo, estúpida.

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