Os manuscritos de Koltès passam a morar na Biblioteca Nacional francesa

Os manuscritos de peças como Na Solidão dos Campos de Algodão, mais textos dactilografados, retratos, correspondência e outros documentos de Koltès passam assim a encontrar-se na vizinhança de manuscritos de autores como Stendhal, Flaubert, Zola, Proust, Claudel ou Sartre

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Koltès está, agora, mais acessível e muito mais longe de desaparecer DR

Desaparecido prematuramente em 1989, aos 41 anos, o dramaturgo Bernard-Marie Koltès continua, no entanto, a ser encarado cada vez mais como um nome essencial para a criação literária e teatral francesa contemporânea.

Na passada semana, os seus arquivos passaram a ter uma nova morada, instalando-se na Bibliothèque National de France, em Paris. “Graças à doação generosa de François Koltès, o irmão do escritor, e à aquisição de outros manuscritos, os arquivos de Bernard-Marie Koltès passam a integrar a BNF”, anunciou a instituição em comunicado.

Os manuscritos de peças como Na Solidão dos Campos de Algodão, Cais Oeste ou Roberto Zucco, mais textos dactilografados, retratos, correspondência e outros documentos de Koltès passam assim a encontrar-se na vizinhança de manuscritos de autores como Stendhal, Flaubert, Zola, Proust, Claudel ou Sartre, integrando uma colecção que apenas reforça o estatuto extraordinário atribuído à obra de Koltès. Sobre este valioso acrescento ao departamento de Artes do Espectáculo da BNF, a ministra da Cultura e da Comunicação francesa Fleur Pellerin considerou que “estes arquivos vêm enriquecer ainda mais o nosso património colectivo, em torno de um autor mais do que nunca estudado e interpretado nas nossas escolas, assim como nos palcos de todo o mundo”. Só no último ano, por exemplo, em Portugal assistimos à encenação de Cais Oeste pelo croata Ivica Buljan para a Companhia de Teatro de Almada e à recente versão de Na Solidão dos Campos de Algodão assinada por Maria João Luís, Rita Blanco e Marcello Urgeghe e interpretada pelas duas actrizes, estreada em Ponte de Sor e com posterior carreira no Teatro São Luiz (Lisboa) e Rivoli (Porto).

A obra singular de Koltès, cuja primeira encenação assinada pelo próprio aconteceu em 1970 (Les Amertumes, a partir de Gorki, com o seu Théâtre du Quai), ficaria fortemente ligada ao percurso do director Patrice Chéreau, responsável pela primeira vida de palco de quase todas as suas criações a partir do dia em que, em 1979, Koltès enviou a Chéreau duas peças pelo correio e nasceu uma relação artística extremamente profícua, sobretudo enquanto Chéreau esteve à frente do Théâtre Nanterre-Amandiers – onde se estreou com Combat de Nègre et de Chiens, em 1983, e de onde se despediu com Retour au Désert, em 1988, dois textos de Koltès.

Segundo o comunicado da BNF, os arquivos tornam igualmente mais claros “aspectos menos comuns da carreira do dramaturgo, como os seus projectos e realizações cinematográficas – entre outros o guião e as notas de montagem do filme La Nuit Perdue, rodado em Estrasburgo, com a sua direcção, em 1973”.

Koltès está, agora, mais acessível e muito mais longe de desaparecer.

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