Solvay desenvolve Pólo Tecnológico na área das fábricas desactivadas

Grupo investe seis milhões na reorganização das unidades de clorato de sódio e água oxigenada que mantém em Portugal.

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Enric Vives-Rubio

Cerca de sete hectares libertados pelo encerramento das unidades de produção de carbonato de sódio e derivados da Solvay Portugal, na Póvoa de Santa Iria, vão ser aproveitados para a criação de um “Pólo Tecnológico” aberto à instalação de outras empresas industriais e de serviços. A Quimialmel foi a primeira cliente deste projecto e já está, desde o final do ano passado, a funcionar em espaços da Solvay, que ao longo de todo este ano de 2015 pretende concluir o processo de desmantelamento das unidades desactivadas no início de 2014.

Na Póvoa, a Solvay mantém fábricas de clorato de sódio e de água oxigenada (únicas em Portugal a fazer estes produtos) e os seus responsáveis garantem que “estão para ficar”, até porque os investimentos de modernização de que beneficiaram em 2014 e vão continuar a beneficiar em 2015 somarão cerca de 6 milhões de euros.  

Devido à progressiva perda de mercados para o carbonato de origem natural explorado na Turquia e nos Estados Unidos, o grupo belga Solvay decidiu, em 2013, encerrar a fábrica portuguesa de carbonato e derivados (bicarbonato e silicato) por considerar que tinha que reestruturar toda a sua produção mundial de carbonato de sódio. A medida obrigou a uma ampla reorganização do complexo fabril que a Solvay detém há perto de 80 anos na Póvoa de Santa Iria e a uma significativa redução de quadros. Dos cerca de 240 postos de trabalho ficaram 70, mas a empresa garante que o plano social acordado com a comissão de trabalhadores permitiu recolocar boa parte dos dispensados noutras empresas da Solvay, em Portugal, no Brasil e noutros países europeus.

A Solvay Portugal é, todavia, proprietária de mais de 35 hectares de terrenos situados a sul da Póvoa de Santa Iria, num espaço que beneficia de boas ligações à linha-férrea, à Estrada Nacional 10 e à Auto-Estrada do Norte (A1). As fábricas que mantém em funcionamento e os serviços de apoio ocupam cerca de 15 hectares. Em 7 hectares que está progressivamente a libertar, a empresa vai criar um “Pólo Técnológico”, projecto que já tem o apoio da Câmara de Vila Franca de Xira.

“A nossa ideia é promover a existência de um pólo tecnológico, onde se podem instalar empresas diversas, não necessariamente só empresas industriais, também podem ser empresas de serviços, podem ser start-ups, podem ser empresas de cariz tecnológico”, explica Luís Saldanha da Gama, administrador-delegado da Solvay Portugal, em declarações ao PÚBLICO, considerando que, com muito pouca divulgação, tem havido uma procura quase semanal de empresas interessadas em instalar-se neste pólo.

Segundo refere, o processo de reestruturação do complexo da Póvoa já permitiu libertar várias naves industriais, armazéns e escritórios, que podem desde já ser ocupados por outras empresas. “Temos uma boa localização e uma série de infra-estruturas que podem ser facilitadas a terceiros. Todas as questões de fornecimento de energia, de água industrial, de vapor, de ar comprimido, redes informáticas, tudo isso já existe e pode ser fornecido a terceiros. Depois, temos serviços sociais que podemos partilhar, com restaurante, um posto médico, salas de reuniões, salão para eventos”, acrescenta Luís Saldanha da Gama, frisando que, com a conclusão do processo de desmantelamento das fábricas desactivadas haverá uma separação física entre as unidades que a Solvay mantém a funcionar na Póvoa e os 7 hectares deste Pólo Tecnológico.

Para o seu funcionamento futuro está, igualmente, prevista a construção de um novo acesso, que ligará à zona da estação ferroviária da Póvoa de Santa Iria e, a partir daí, à Estrada Nacional 10. Alberto Mesquita, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, vê com bons olhos o desenvolvimento deste Pólo Técnológico. “Tudo isto é dinâmico, tudo isto se reconverte, o pior que pode acontecer é fecharem mais instalações de empresas do que aquelas que se criam de novo”, sublinha.

Luís Saldanha da Gama diz, por seu turno, que o grupo Solvay já tem outras experiências semelhantes noutros pontos do Mundo e que o objectivo, na Póvoa de Santa Iria, é que os terrenos deste Pólo Tecnológico continuem a pertencer à Solvay e que a sua utilização seja cedida a terceiros, com a possibilidade de utilizarem ou não os serviços comuns existentes. “Temos que ser abrangentes e olhar para uma lógica de instalação de empresas que até podem gerar sinergias entre elas. Podemos ter aqui uma empresa de metalomecânica que prestes serviços à Solvay e a outras empresas do pólo ou uma empresa de informática, por exemplo. Todos podem trabalhar em conjunto e todos ganhamos com isso”, prevê.

As duas fábricas que a Solvay mantém na Póvoa produzem exclusivamente para o mercado nacional e não chegam para cobrir totalmente as suas necessidades. O clorato de sódio é utilizado sobretudo pela indústria da pasta de papel e de papel (branqueamento) e a Solvay Portugal tem, nesta altura, capacidade para produzir 24 mil toneladas por ano. Na unidade de peróxido de hidrogénio (água oxigenada) podem produzir-se cerca de 14 mil toneladas por ano. “No ano passado, na reorganização desta área foram investidos à volta de 3 milhões de euros. Para este ano estão previstos mais 3 milhões. Se o grupo não estivesse interessado na manutenção disto não nos dava o apoio que nos tem dado, em investimento, em engenharia, de maneira a que todo este complexo seja reestruturado”, conclui o administrador-delegado da Solvay. 

Desmantelamento gera 6282 toneladas de resíduos
Depois de toda a fase de desactivação e de limpeza de materiais, o desmantelamento das fábricas de carbonato de sódio e de derivados avança, este ano, para a remoção efectiva das grandes estruturas. Um trabalho moroso, que prevê o acantonamento dos diferentes materiais e o seu posterior encaminhamento para reciclagem. Todo este processo, segundo a empresa, vai envolver a remoção e reutilização de um total de 6282 toneladas de resíduos, que incluem cerca de 5 mil toneladas de ferro, 200 de aço, 140 de fibrocimento, 130 toneladas de transformadores, 110 de alumínio e 95 de cabos eléctricos. Haverá, ainda, 20 mil toneladas de inertes, que serão triturados e utilizados no nivelamento das instalações.
 
Ao longo do ano passado foram despejados e limpos todos os reservatórios e condutas. Uma operação sempre sensível, até porque a Solvay trabalha com produtos químicos. Gerou, entre outros materiais, cerca de 1270 toneladas de líquido amoniacal, que foi recolhido e transportado para a fábrica que a Solvay também possui em Torrelavega (Espanha). “Trabalhamos no sentido de garantir que não haverá qualquer impacto negativo, nem para o exterior, nem para o interior da empresa. Convém não esquecer que nós próprios, eu inclusivamente, moramos do outro lado da linha-férrea. A minha família também lá está”, salienta Luís Saldanha da Gama, assegurando que todos estes procedimentos têm sido feitos por empresas especializadas e de acordo com planos aprovados pela tutela do ambiente. “Tínhamos que assegurar que tudo aquilo que estava dentro dos nossos reservatórios, condutas, silos, ia ser retirado e devidamente tratado para que, depois, quando for feita a demolição, não houvesse impactos”, explicou.        

Por isso, Luís Saldanha da Gama julga que a população vizinha, ao longo deste ano, vai sentir apenas algum barulho e, eventualmente, algumas poeiras libertadas pelos trabalhos de remoção das estruturas. Depois disso, garante, serão feitas análises ao solo para perceber se há alguns vestígios de poluição que também tenham que ser removidos.

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